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terça-feira, 2 de julho de 2013

A POLÊMICA SOBRE A BEATIFICAÇÃO DA PRINCESA ISABEL E A LEI DE GERSON

Anos atrás o ex-jogador de futebol Gérson fez um comercial de TV de cigarros e, com um sorriso malandro, terminava com a seguinte frase: “O negócio é levar vantagem em tudo”. Pegou mal! Muitos brasileiros tomaram a consciência de um defeito nacional, como quem se olha em um espelho e reconhece algo de que se envergonha. O fato é que parece que Gérson virou motivo de piada, e mais tarde teria dito que se arrependia profundamente de ter feito aquele comercial de TV, pois foi a pior coisa que tinha feito na vida etc. A triste frase foi incorporada à nossa linguagem coloquial como sinônimo de "esperteza bem ao jeitinho brasileiro".
Bem, o que tem isso a haver com o processo de beatificação da Princesa Isabel? Aparentemente nada, mas se olharmos com mais atenção veremos que TUDO!
O governo brasileiro anda lançando um pacote com todo tipo de leis as mais paradoxais possíveis: liberação de maconha, proibição de cigarro (em locais públicos fechados), a mulher pode evitar a maternidade através do aborto, mas o homem não pode evitar a paternidade forçada devido ao DNA, sendo obrigado a sustentar filhos que jamais imaginou vir a ter, e outras leis das quais grupos religiosos reclamam. E por que? Por que vivemos em uma sociedade moderna, laica, secular, em que é SAGRADA A SEPARAÇÃO ENTRE IGREJA E ESTADO. Ou seja, qualquer cidadão brasileiro não católico pode dizer: O que o Vaticano ditar como norma de conduta não tem valor para mim. Não sou católico e pronto! A liberdade de culto e a divisão entre igreja e Estado é garantida pela Constituição.
Por isso proliferam tantas igrejas cristãs das mais variadas denominações (dizem que nos EUA são mais de 23 mil), que não aceitam o Vaticano, e a Católica, que se mantém fiel ao Papa. O Papa Leão XIII deu em vida à Princesa Isabel a famosa “Rosa de Ouro”, comenda de altíssimo valor, dada à pessoa que fez algo que foi MOTIVO DE JÚBILO PARA A IGREJA CATÓLICA, sendo a Princesa Isabel a única personalidade brasileira a tê-la recebido. Foi doada por Dom Pedro Henrique, falecido pai da atual geração de príncipes da Família Imperial Brasileira à Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro.
 
Dona Maria da Baviera e a Rosa de Ouro

Mas isso...ora, isso já faz muito tempo! Sim, porque o nosso tempo também corre de modo especial e isso também já foi retratado em outro anúncio de TV: "Compre agora e pague em janeiro, porque até janeiro...dinheiro pinta!" Se alguns meses é um longo tempo "financeiramente" para os brasileiros, o que aconteceu 1888 é para nós uma eternidade. Enfim, o povo já havia esquecido a Rosa de Ouro dada pela Papa Leão XIII, mas a Princesa, nem tanto. Afinal ela foi eleita a maior mulher brasileira de todos os tempo em programa do SBT.

MAS AGORA... BEATIFICAÇÃO! ENTÃO OS BRASILEIROS TIVERAM UMA SANTA NO PODER E FIZERAM O QUE? EXILARAM A SANTA!! QUE COISA!

Talvez muitos os brasileiros voltem a se olhar no espelho, em dolorosa introspecção.
Eu, por exemplo, poderia especular que a beatificação da Princesa Isabel pode não interessar nem mesmo aos políticos da atual República, pois envergonharia o passado republicano, que, ao longo de inúmeras "quarteladas" nunca conseguiu criar grandes heróis, muito menos santos.
Hoje Tiradentes está sendo desmistificado até por anti-monarquistas. Mas precisavam tanto de um mártir para dar alguma moral ao golpe, que fizeram retratar Tiradentes com longos cabelos e barbas, um tanto semelhante a Jesus, quando em qualquer prisão, a primeira coisa que se fazia era raspar a cabeça e barba do preso, e assim ele ficava no presídio.
Senhores, perdoai-me digressão. Voltando à questão anterior: o mérito da beatificação da Princesa Isabel, pela Constituição, deve ficar rigorosamente a critério interno de cada um. Para os ateus ou não católicos, É OU DEVERIA SER, INDIFERENTE, POIS, AFINAL TEMOS LIBERDADE DE CULTO COM SEPARAÇÃO TOTAL ENTRE IGREJA E ESTADO.
SÓ QUE ISTO É UMA MÃO DE DUAS VIAS! OS AGNÓSTICOS, ATEUS, EVANGÉLICOS, PROTESTANTES, ADVENTISTAS, KARDECISTAS, UMBANDISTAS E JORNALISTAS NÃO TÊM NADA QUE SE METER COM AS DECISÕES INTERNAS DO VATICANO A RESPEITO DE BEATIFICAÇÕES. O VATICANO É E SEMPRE FOI SOBERANO, INCLUSIVE COM SUA PRÓPRIA GUARDA SUÍÇA. Hitler invadiu a maior parte da Europa, mas não invadiu o Vaticano, embora detestasse a religião cristã.
Se não admitem interferências da Igreja em suas vidas privadas, também não poderiam se sentir no direito de fazer sequer a mínima crítica pública a assuntos internos da Igreja Católica e do Vaticano. Mas fazem, inclusive para publicação em revistas, como no caso da ISTO É, incorporada abaixo.
Aí é que entra a Lei de Gérson: dois pesos e duas medidas, manipulando princípios, regras de conduta e leis, do jeito que me convém, contanto que no geral o resultado fique a meu favor.
Pela liberdade de culto e separação de Igreja e Estado, a Igreja Católica tem a liberdade de beatificar quem achar que merece, e a sociedade laica, secular ou outros grupos, religiosos ou não, historiadores, grupos de defesa dos direitos dos negros ou jornalistas, não têm nada que se meter ou polemizar publicamente o assunto. E quando o fazem, além de desrespeitar a Constituição, acabam falando bobagem, pela falta total de preparo teológico.
O PRIMEIRO SANTO CATÓLICO DO MUNDO FOI UM LADRÃO QUE SÓ SE ARREPENDEU NA HORA DA MORTE. Jesus Cristo, na cruz, santificou este ladrão em seus últimos momentos de vida: São Dimas, protetor dos pobres agonizantes, daqueles cuja conversão na última hora parece mais difícil. Entregam a São Dimas a proteção de casas e propriedades contra ladrões. Invocam-no nas causas difíceis, em negócios financeiros, para regeneração de bêbados, jogadores e ladrões. É protetor dos presos e das penitenciárias, dos carroceiros e condutores de veículos. A Igreja Católica celebra dia 25 de março como dia de São Dimas.
Será que muita gente sabe disso? Duvido muito. PREFEREM USAR A ESPERTA LEI DE GÉRSON, LEVAR VANTAGEM EM TUDO, NA MANEIRA COMO TECEM SUAS ARGUMENTAÇÕES, IGNORANDO QUE SEPARAÇÃO ENTRE IGREJA E ESTADO É UMA VIA DE DUAS MÃOS: "A IGREJA NÃO PODE INTERFERIR EM MINHA VIDA PESSOAL, MAS EU POSSO ME IMISCUIR NOS ASSUNTOS INTERNOS DA IGREJA, INCLUSIVE CRITICAR PROCESSOS DE BEATIFICAÇÃO", sem estudar os antigos, longos e rigorosíssimos processos da Igreja Católica, que incluem ATÉ A FIGURA DO PROMOTOR DA FÉ, POPULARMENTE CONHECIDO COMO "ADVOGADO DO DIABO", CUJA FUNÇÃO É FAZER TUDO PARA "DERRUBAR" O PROCESSO, AO INVESTIGAR A FUNDO TUDO QUE HOUVER DE NEGATIVO NA VIDA DO CANDIDATO, AO LONGO DE TODA SUA VIDA. E se isto não é suficiente, existe ainda a conhecida frase a respeito de santidade:
“DEUS NÃO ESCOLHE OS CAPACITADOS, MAS CAPACITA OS ESCOLHIDOS”. Justamente por isso existem casos como o de Santa Madalena, e do advogado judeu Saulo de Tarso, cidadão romano, que não só perseguiu os primeiros cristãos, mas incitou em praça pública a morte por apedrejamento de Santo Estêvão (primeiro mártir cristão), e mais tarde se tornou São Paulo, pilar maior da Igreja Católica, cujas cartas até hoje são mais lidas nas missas diárias do que as de qualquer outro santo.

texto do Círculo Monárquico do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

PROJETO DE INDENIZAÇÃO AOS EX-ESCRAVOS



11 de agosto de 1889 - Paço Imperial

Caro Senhor Visconde de Santa Victória

Fui informada por papai que me colocou a par da intenção e do envio dos fundos de seu Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do ano passado, e o sigilo que o Senhor pediu ao presidente do gabinete para não provocar maior reação violenta dos escravocratas. Deus nos proteja dos escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio, pois seria o fim do atual governo e mesmo do Império e da Casa de Bragança no Brasil. Nosso amigo Nabuco, além dos Srs. Rebouças, Patrocínio e Dantas, poderem dar auxílio a partir do dia 20 de Novembro quando as Câmaras se reunirem para a posse da nova Legislatura. Com o apoio dos novos deputados e os amigos fiéis de papai no Senado será possível realizar as mudanças que sonho para o Brasil!
Com os fundos doados pelo Senhor teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos. Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seus bens, o que demonstra o amor devotado do Senhor pelo Brasil. Deus proteja o Senhor e todo a sua família para sempre!
Foi comovente a queda do Banco Mauá em 1878 e a forma honrada e proba, porém infeliz, que o Senhor e seu estimado sócio, o grande Visconde de Mauá aceitaram a derrocada, segundo papai tecida pelos ingleses de forma desonesta e corrupta. A queda do Sr. Mauá significou uma grande derrota para o nosso Brasil!
Mas não fiquemos mais no passado, pois o futuro nos será promissor, se os republicanos e escravocratas nos permitirem sonhar mais um pouco. Pois as mudanças que tenho em mente como o senhor já sabe, vão além da liberação dos cativos. Quero agora me dedicar a libertar as mulheres dos grilhões do cativeiro domestico, e isto será possível através do Sufrágio Feminino! Si a mulher pode reinar também pode votar!
Agradeço vossa ajuda de todo meu coração e que Deus o abençoe!

Mando minhas saudações a Madame la Vicomtesse de Santa Vitória e toda a família.

Muito de coração

Isabel

sábado, 1 de setembro de 2012

POEMA EM HOMENAGEM A PRINCESA DONA ISABEL



"Princesa Dona Isabel,
Mamãe disse que a Senhora
Perdeu seu trono na terra,
Mas tem um mais lindo agora.

No céu está esse trono
Que agora a Senhora tem,
Que além de ser mais bonito
Ninguém lho tira, ninguém."

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

LEÃO XIII E DONA ISABEL




Muitos dos dons conferidos pelos papas a soberanos decorrem de uma relação histórica construída com o passar dos séculos. Nosso império teve vida curta, mas mesmo assim a Princesa Imperial Regente, D Isabel, Chefe da Casa Imperial do Brasil, de 1891 a 1921, recebeu de Sua Santidade o Papa Leão XIII, a 28 de setembro de 1888, a primeira Rosa de Ouro do Brasil. Foi orador na ocasião D. Antônio de Macedo Costa, o companheiro de D. Vital. Essa Rosa de Ouro foi doada ao Museu de Arte Sacra do Rio de Janeiro, que funciona no subsolo da Catedral Arquidiocesana, por seu neto e sucessor imediato, o Príncipe Dom Pedro Henrique, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981 e pai do atual Chefe da Casa, o Príncipe Dom Luiz.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

UNIÃO AMIGA ENTRE O TRONO E O ALTAR


União amiga entre o Trono e o Altar


Discurso pronunciado por D. Antônio Macedo Costa, companheiro de D. Vital, e com ele preso por ordem do gabinete chefiado pelo Visconde do Rio Branco. Anos depois, em 28 de setembro de 1888,em homenagem a Princesa Isabel, por ocasião da entrega da Rosa de Ouro, oferecida à princesa pelo Papa Leão XIII, D. Antônio pronuncia famoso discurso, no qual se destaca esse trecho, verdadeiro programa para o novo reinado.

"Abolimos o cativeiro material. Foi muito; mas isto foi apenas o começo; removemos um estorvo e nada mais. Cumpre agora abolir o cativeiro moral: é necessário resgatar as almas de tudo o que é baixo, vergonhoso, degradante. Restaurar moral e religiosamente o Brasil! Esta é a obra das obras; a obra essencial, a obra fundamental sobre que repousa a estabilidade do trono e o futuro da nossa nacionalidade. Senhores, nós atravessamos uma hora perturbada e cheia de tristezas: assistimos a desfalecimentos deploráveis, a uma tendência para derruir as tradições do passado sob o pretexto de preparar mais auspicioso porvir... Há uma cousa que permanece, uma cousa firme, constante, que vigora, que tem vida, com que se pode contar para o futuro: é a religião de Jesus Cristo, ensinada pela Igreja Católica há dezoito séculos, com a assistência do Espírito do mesmo Cristo. Aí está a força que restaura, aí está a força que salva, que adianta seguramente os povos nos caminhos do verdadeiro progresso - o que tem por ponto de partida o Evangelho... A força material da autoridade pública apenas atinge o corpo, - quando atinge! É preciso uma força superior, sobrenatural, que penetre até às almas, que chegue até o fundo das consciências para lá depor os germens fecundos da honra e da virtude. Pois bem, Senhores, já que o Sumo Pontífice, o maior representante da Religião, o homem que exerce a maior força moral neste mundo, em uma crise tão memorável da nossa vida social vem a nós, cheio de benevolência e amor pela nossa Nação, vamos nós ao Sumo Pontífice ! Estreitemos com ele laços de amor, de gratidão, de filial obediência."

domingo, 12 de agosto de 2012

CARTA DO CONDE D'EU


Sr. Dr. Armando Dias de Azevedo.

Sinto não ter podido, há tempo já, escrever-lhe. A SEPARAÇÃO DE MINHA DELICADA COMPANHEIRA DE MAIS DE 57 ANOS DEIXOU-ME MUITO ABATIDO, e, ultimamente, acresceram sufocações cardíacas, que provavelmente me privarão, com grande desgosto meu, de realizar meu projeto de ir ao Rio tomar parte na celebração do centenário da Independência Pátria. A alteração da minha letra, mostra-lhe o declinar de minhas forças, e a dificuldade que tenho em escrever. Deve fazer ideia quanto nos penhoram as demonstrações havidas nessa capital por motivo do nosso irreparável infortúnio: a inserção, por proposta sua, dum voto de pesar, na sessão do Instituto Histórico, e as diversas Missas rezadas. Queira receber meus sentidos agradecimentos e transmiti-los aos Srs. Cônego Balen, Olímpio Duarte, Nicolau Birnefeld Filho, que bem conheço por sua atenciosa correspondência,os quais, com o senhor obsequiosamente promoveram a Missa de 7º Dia agradecendo também as exéquias solenes a que se dignou presidir o Reverendíssimo Arcebispo Metropolitano....

Gastão de Orléans,

Castelo D'Eu, 24 de julho de 1922.

sábado, 28 de julho de 2012

PRINCESA ISABEL REDENTORA OU SANTA?



Por Dom Antonio Augusto Dias Duarte*

Comecei a escrever esse artigo no dia 14 de novembro de 2011, sabendo que há 90 anos falecia, em Paris, a primeira mulher que governou o Brasil, a princesa Isabel Cristina Leopoldina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança.
Era também uma segunda-feira, e no Castelo d’Eu, na Província da Normandia, em consequência de uma insuficiência cardíaca agravada por congestão pulmonar, a três vezes regente do Império brasileiro pronunciava o seu definitivo “sim” a Deus, aceitando a morte bem longe de sua amada pátria, o Brasil.
No seu testamento feito em Paris, no dia 10 de janeiro de 1920, encontram-se os seus três grandes amores. Assim se lê nesse documento revelador: “Quero morrer na religião Católica Apostólica Romana, no amor de Deus e no dos meus e de minha pátria”.
Inseparáveis no coração de mulher, de mãe e de regente, esses amores, vividos com fidelidade e heroísmo, constituíram o núcleo mais profundo de seu caráter feminino, sempre presente na presença régia dessa mulher – esposa, mãe, filha, irmã, cidadã – e, sobretudo, na sua função de uma governante incansável na consecução de uma causa que se arrastava lentamente no Império desde 1810: a libertação dos escravos pela via institucional, sem derramamento de sangue.
Conhecendo com mais detalhes a vida dessa regente do Império brasileiro e conversando com várias pessoas sobre a sua possível beatificação e canonização num futuro próximo, fico admirado com suas qualidades humanas e sua atuação política sempre inspirada pelos princípios do catolicismo, e, paralelamente, chama-me atenção o desconhecimento que há no nosso meio cultural e universitário sobre a personalidade dessa princesa brasileira.
Sabemos que sua atuação política, inspirada pelos ensinamentos evangélicos, não foi bem acolhida na corte e na sociedade da sua época, quando a economia brasileira dependia desse sistema escravagista tão indigno do ser humano. Sabemos que sua vida católica profunda e ao mesmo tempo muito prática incomodava, a tal ponto que comentários pejorativos – tal como acontece ainda hoje quando se é autenticamente católico – sobre sua “beatice” eram muito frequentes entre os políticos da sua época. Sabemos que as suas ações beneméritas e de caridade cristã não só a levaram a abraçar essa causa abolicionista, mas também a varrer a Capela Imperial de Glória (a Igreja do Outeiro) com as mulheres escravas e a viver com constância duas das inúmeras preocupações cristãs: rezar pelo Brasil e pela conversão dos ateus.
O que sobressai nesse saber histórico e nos permite falar e agir no sentido de abrir um processo canônico de beatificação dessa primeira mulher governante do Brasil é a sua fé firme, a sua fervorosa caridade e a sua inabalável esperança cristã, que a conduziram por um caminho muito característico das pessoas que respondem à chamada, presente no sacramento do Batismo, a santidade. O caminho da defesa da dignidade e dos autênticos direitos humanos, tão necessária para a construção de um país onde a justiça social e a paz entre os homens fortalecem as relações entre todas as classes sociais, não é apenas uma atitude política, mas é uma ação própria dos santos de todos os tempos e, principalmente, da nossa época moderna e pós-moderna.
A princesa Isabel, como católica, esposa, mãe e governante do Brasil, sabia muito bem que a fé, a esperança e a caridade cristãs não conduzem a um refúgio no interior das consciências ou não são para serem vividas somente entre as quatro paredes de uma igreja, mas comprometem os católicos na busca incansável de soluções para os grandes problemas sociais da época da história na qual vivem.
Foi por isso que a princesa Isabel mereceu a mais suma distinção da Igreja Católica, a Rosa de Ouro, conferida pelo Papa Leão XIII, em 28 de setembro de 1888, um prêmio que é análogo ao atual Prêmio Nobel da Paz, e até hoje foi a única personalidade brasileira a receber essa comenda, guardada no Museu de Arte Sacra do Rio de Janeiro.
Os passos que começaram a ser dados para a abertura do processo de beatificação da princesa Isabel na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro estão perfeitamente sincronizados com as reais necessidades do nosso país, governado hoje pela segunda mulher brasileira. Ontem como hoje a promoção da vida dos mais marginalizados no Brasil, a defesa do “ventre livre”, onde as crianças podem desenvolver-se sem a entrada de máquinas aspiradoras e assassinas das suas vidas, a atenção social e econômica mais urgente com os “escravos do álcool, do crack, dos antivalores” que acabam com boa parte da juventude brasileira, a tolerância e o respeito pela pluralidade religiosa e a abertura ao diálogo sincero entre as diversas camadas sociais são prioridades que devem ser atendidas num esforço comum entre católicos, evangélicos, muçulmanos, judeus, seguidores das religiões africanas, enfim, por todos que têm amor pelos seus entes queridos e pelo Brasil à semelhança da princesa Isabel.
Para que no Brasil se respire a verdadeira liberdade e haja realmente unidades pacificadoras no meio das cidades espalhadas, e não em comunidades cariocas dominadas pelo tráfico de drogas, urge ter homens e mulheres, como a princesa Isabel, o frei Galvão, a irmã Dulce, etc., que com suas vidas exemplares na fé, na esperança e na caridade, sejam testemunhas vivas da santidade, que não passou de moda, pois os santos continuam sendo os grandes conquistadores e construtores do mundo onde a humanidade pode habitar.
Vale a pena considerar com pausa e reflexão essa chamada feita no início do Terceiro Milênio pelo saudoso Papa João Paulo II para a hora em que estamos vivendo na Igreja.
“É hora de propor de novo a todos, com convicção, essa medida alta da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nessa direção (...). Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um” (cf. Carta Apostólica no início do Novo Milênio, beato João Paulo II, n. 31, 6.1.2001).

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* Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, no jornal “O Testemunho de fé”.

domingo, 22 de julho de 2012

A MORTE CATÓLICA DO CONDE D'EU


O Príncipe faleceu no dia 28 de agosto de 1922, vítima de um ataque cardíaco, a bordo do navio francês "Massília". (...) o grande católico e grande brasileiro, rodeado de sua nora, D. Maria Pia, e de seus netos D. Pedro Henrique(1), D. Luiz Gastão(2) e D. Pia Maria(3), confortado com os Santos Sacramentos, em plena lucidez e tendo pedido que lhe dessem o seu crucifixo, piedosa lembrança de sua avó paterna, a Rainha dos Franceses Maria Amélia, que lho dera no dia de sua Primeira Comunhão, para que, abraçado a ele, pudesse lograr a última indulgência plenária.
Poucos meses antes, já octogenário, assistira em Roma, ao Congresso Eucarístico Internacional, acompanhando, com grande fé, devoção e humildade e sem poupar sacrifícios, todos os exercícios e cerimônias. O corpo do Conde d'Eu foi depositado a 31 de agosto de 1922 na Igreja da Santa Cruz dos Militares, no Rio, onde o visitou, a 2 de setembro, o nosso caro confrade Adroaldo Mesquita da Costa, que achando-se, então, na capital da República, fez a gentileza de deixar no livro de presença, declaração de que também me representava, enviando-me, logo após, um cartão postal, que ainda conservo, com as seguintes palavras: "Acabo de chegar da visita que fiz à Igreja da Santa Cruz dos Militares, onde fui visitar o corpo do MARECHAL DA VITÓRIA, o nosso saudoso Conde d'Eu". 
A 30 de setembro, o corpo do grande príncipe seguiu para a França, no paquete brasileiro Curvelo, sendo deposto a 26 de outubro, no sarcófago  da capela mortuária da Casa Real de França, em Dreux, junto ao de sua excelsa esposa, a princesa D. Isabel".

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‎(1) D. Pedro Henrique era então o Chefe da Casa Imperial do Brasil pelo falecimento de sua avó, D. Isabel, em 1921. Tinha 12 anos de idade e era do maior interesse do Conde d'Eu apresentá-lo aos brasileiros.
(2) Morto em odor se santidade, aos 20 anos de idade, recomendamos que leiam em Documentos, o resumo de sua vida de autoria do Capelão de D. Isabel na França.
(3) D. Pia Maria, Princesa Imperial do Brasil de 1931 até o nascimento de D. Luiz, atual Chefe da Casa Imperial do Brasil, nas  memórias que editou de sua mãe, nada menciona sobre as homenagens prestadas ao Conde d'Eu no Rio de Janeiro. Preferimos nos abster de comentar seu relato deixando o tópico em aberto para quem melhor conheça o assunto.


sexta-feira, 29 de junho de 2012

A FÉ DE DONA ISABEL

A FÉ DE D. ISABEL(*)

"Cinco dias antes da morte do Imperador, G. H. Wyndham, Ministro da Inglaterra no Brasil, e nessa ocasião de passagem em Paris, avistava-se nessa cidade com o Conselheiro Silveira Martins, aí exilado. Dizia-lhe Martins que, aconselhado pelo Imperador, fora ter com a Princesa Imperial para falar-lhe sobre a possibilidade de a Monarquia ser restaurada. Dizendo-lhe que nesse caso ela teria todo o seu apoio (2), a Princesa respondeu-lhe:
'Sim, mas embora Brasileira, sou, antes de tudo, católica; e com relação a meu filho ir para o Brasil, jamais o confiarei a esse povo, já que o meu dever é a salvação da sua alma.' (2)
A que Silveira Martins respondeu: 
'Então, Senhora, o seu destino é o Convento!'
Wyndham acrescentava que tanto o Duque de Nemours como seu filho, o Conde d'Eu, eram tão beatos quanto a Princesa, e que os brasileiros não estavam inclinados a aceitá-la como Imperatriz reinante, nem o seu filho D. Pedro, preferindo a este o seu primo, D. Augusto, filho da falecida Duquesa de Saxe, irmã de D. Isabel (3), incorporado naquela ocasião, à marinha austríaca (4).








*Nota do Blog: Esse texto foi extraído do recém-publicado livro "A INTRIGA" de autoria de D. Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança. 2012. São Paulo. Editora Senac. 383pp. O trecho citado encontra-se às páginas 354-355. Os números em ( ) foram introduzidos por mim. São meus, portanto, os comentários abaixo.
(1) Eu sempre afirmei que o Conselheiro Gaspar da Silveira Martins era monarquista. Isso o fazia, principalmente embasado em informações de minha avó paterna, que era monarquista, filha do Coronel Evaristo Lopes dos Santos, amigo do Conselheiro.
(2) D. Pedro tinha então 16 anos de idade. Natural a preocupação da Princesa, em mandar para o Brasil, uma criança que poderia vir a ser educada por inimigos da Fé.
(3) Trata-se de D. Leopoldina, segunda filha de D. Pedro II. D. Augusto era seu segundo filho e avô do autor do livro. Seu filho mais velho, D. Pedro Augusto, enlouquecera já embarcado, a caminho do exílio.
(4)  Ofício de 7 de janeiro de 1892 ao Foreign Office, e comunicado ao autor por J. de Souza Leão (Lyra, 1977, p.207, nota 241). Nota do Autor: Creio poder se tratar do Embaixador Joaquim de Souza Leão, primo de tio Manuel Ignácio (Cavalcanti de Albuquerque), a quem conheci quando eu era muito menino aqui no Rio de Janeiro.

Paulo Woolf

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Prólogo da Beatificação de Dona Isabel

Pela Verdade e pela Vida nós vamos ao Congresso!
"Uma sociedade não pode avançar matando outras pessoas"

Prólogo da Beatificação de Dona Isabel

O arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, recebeu ontem, dia 19 de outubro, o pedido formal de abertura do processo de bem-aventurança e beatificação da princesa Isabel.

O Prof. Hermes Rodrigues Nery, acompanhado de seu filho, João Victor, 12 anos, entregou-lhe uma carta formalizando o pedido, e apresentou os argumentos e justificativas para a abertura do processo. No encontro, esteve presente o príncipe Dom Antonio João de Órleans e Bragança, da casa Imperial do Brasil.

Esforços conjuntos para abrir o processo de beatificação da princesa Isabel

Dom Orani explicou que como primeira providência deverá ir até a Arquidiocese de Paris, dado que a princesa Isabel faleceu na França, em 14 de novembro de 1921. Feito isso, será constituída uma Comissão para o início dos estudos e pesquisas, sob a supervisão do beneditino Dom Roberto Lopes.

A carta com o pedido foi assinada pelo prof. Hermes Rodrigues Nery, coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté, e Mariângela Consoli de Oliveira, secretária-Executiva da Associação Nacional pró-Vida e Pró-Família, com sede em Brasília (DF).

outubro 20, 2011 por Wagner Moura

Carta entregue a Dom Orani.

[negritos separando o texto em seções por ECM]

São Bento do Sapucaí, 19 de outubro de 2011

À Vossa Excelência Reverendíssima DOM ORANI JOÃO TEMPESTA

DD. Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro

“Mas meu coração é o mesmo para amar minha pátria e todos aqueles que nos são tão dedicados”.

Princesa Isabel do Brasil, durante o exílio

Com efusiva alegria lhe escrevemos, agradecendo desde já a acolhida, neste dia em que a Igreja celebra a festa de São Pedro de Alcântara (+ 1572), para solicitar-lhe de modo muito especial a abertura do processo que permita declarar serva de Deus a Princesa Isabel do Brasil (1846-1921), para posteriormente alcançar a sua beatificação. Seu exemplo de vida, que exigiu coerência e coragem em momento decisivo da nossa história, especialmente no difícil campo político, pode servir de referência aos que hoje sentem-se tentados ao desânimo, ao ceticismo e ao indiferentismo, ou pior ainda, aos que não se empenham mais aos sacrifícios necessários no exercício de funções públicas, tendo em vista o verdadeiro bem comum. Preparada desde cedo para ser rainha do Brasil, quis a Providência que exercesse a Regência por três períodos, e como governante mulher, zelosa de suas prerrogativas e deveres, empenhou-se vivamente para liquidar de vez no Brasil, a ignominiosa escravidão. Ao assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, seu nome fulgurou glorioso na história nacional.

Testemunharam os que conviveram com ela, o vigor límpido de seu caráter, seu autêntico patriotismo, a sensibilidade na busca de soluções efetivas que dessem ao Brasil condições a um desenvolvimento social pautado nos princípios e valores do humanismo integral, para corrigir distorções e abusos que atentassem contra a dignidade da pessoa humana, refletindo em ações concretas o que Leão XIII imprimiria em sua memorável Rerum Novarum. Quando as circunstâncias exigiram dela uma tomada de posição, ousou correr riscos em defesa dos fragilizados, decidindo em favor daqueles que mais necessitavam um olhar compassivo, tomando decisões que refletiram um desejo sincero e profundo de melhoria conjuntural para viabilizar um panorama social brasileiro menos perverso. “Carinhosa ao extremo, devotada à família, ela queria que todas as mães sentissem a ventura de se verem livres para melhor se dedicarem aos seus entes queridos. Vibrava nela, de modo intenso, o sentimento da solidariedade cristã”1 Nesse sentido, teve percepção do momento histórico em que viveu e não protelou os encaminhamentos necessários, agindo com firmeza, enfrentando resistências e dissabores, sem deixar de ser fiel às suas convicções humaníssimas e cristãs, ciente de que “todo cristão, no curso de sua vida, deve fazer frente a situações que exigem opções fundamentais, que comprometem até o fundo a sua caridade para com Deus e para com os homens, oferecendo-lhe, assim, a oportunidade de praticar a virtude de modo heroico”.2

No momento em que se viu com o destino da Nação em suas mãos, não recuou diante das dificuldades. A hora requeria muito mais que discursos em tribuna, mas a energia e a coragem para o bem. No tocante à abolição, “a herdeira do trono não era uma mulher só de palavras. Organizava festividades com o intuito de angariar fundos para diversos grupos abolicionistas – ela mesma contribuía financeiramente – possuía papel de destaque na Comissão Libertadora, protegia escravos fugitivos e apoiava quilombos abolicionistas, no que era apoiada por seu marido, o Conde d’Eu.”3 Enquanto muitos dissimulavam e evitavam as questões incômodas, ela olhou de frente e decidiu para o bem de todos. Não apenas na questão magna de sua vida – a emancipação dos escravos – mas também nos fatos corriqueiros do cotidiano, expressava uma dulcíssima benevolência, marcante de sua personalidade de temperamento forte, mas magnânimo, com uma “ternura mesclada à bondade sem limites e capaz dos mais assinalados sacrifícios”.4 Tinha consciência de que a sua condição de herdeira do trono brasileiro (cujo sangue descendia do cristianíssimo São Luiz), a levava a procurar na sobriedade e na generosidade um exemplo de conduta digna dos valores da sua fé cristalina. Machado de Assis ao descrever numa crônica publicada no Diário do Rio de Janeiro a sua festa de casamento, observou: “Uma das coisas que fez mais efeito nesta solenidade foi a extrema simplicidade com que trajava a noiva imperial”.5

Da Princesa Isabel, conta-nos um de seus principais biógrafos:

Ela “herdou do avô nítidos traços do seu temperamento, em que se condicionam a maneira forte de querer, a liberalidade dos sentimentos e o gênio voluntarioso. Sua impetuosidade e a desenvoltura dos gestos corajosos e enérgicos, são ainda atributos que lhe vieram do avô, como do avô era a sua natureza comunicativa, alegre, expansiva, donde o seu gosto pelas festas, pelas reuniões cheias de vozes e movimento. Bem educada e instruída, coisas que faltaram ao avô, era correta nos seus modos convenientes, geridos por seu alto senso de moralidade. Destemida, tinha ela a coragem e mesmo o desassombro de colocar, sem subterfúgios, o que aprazia os seus sentimentos acima dos preconceitos da época. Daí ter, certa feita, religiosa que era, chegado a ajudar suas criadas na lavagem de uma igreja, vassoura em punho, sem se lhe dar com a estranheza que isto causara em muitas pessoas, inclusive nos meios políticos. Franca e leal para consigo mesma, jamais faltara aos seus compromissos morais e sociais. Caracterizava-a, distintamente, a firmeza de convicção e a indomabilidade que sempre pusera à prova, quando se decidia por alguma coisa, e de que são exemplos frisantes a preferência dada ao médico francês que a assistiu nos seus partos e a sua sanção à lei que aboliu a escravidão no país.”6

E acrescenta:

“A princesa tivera uma infância bem cuidada: (…) A religião lhe penetrara o espírito e lhe abrira as portas amplas de um mundo de meditações utilíssimas, notadamente para a vida de uma mulher de sua condição, do seu porte, do seu gênio impulsivo, de sua voluntariosidade. De caráter firme e impoluto, animada que sempre fora de um sentimento de dignidade incorruptível, jamais abandonaria ela os hábitos e os exemplos da infância e da mocidade, fruídos no sadio e austero ambiente paterno, de tanta respeitabilidade e tão em harmonia com o seu feitio religioso, aprimorador de sua moral. De tal sorte lhe foi atuante e benéfica a educação recebida que, ao formar o seu lar, timbrara em prosseguir nos mesmos passos palmilhados na infância, tratando a todos com doçura e afabilidade. Não tinha, como a Imperatriz também não tinha, nem protegidas nem validas. Diz Heitor Lyra: ‘Se cultivavam um círculo restrito de amigas, com as que têm aliás todo o mundo, de uma forma meramente pessoal e privada, não lhes faziam , mesmo a estas, outras concessões que não fossem a de um puro sentimento de amizade franca e desinteressada, de parte a parte, que se refletia apenas no círculo caseiro do Palácio, sem nenhum alcance lá fora, na política ou na administração, mesmo nas dependências do Paço’. Foi virtuosa por índole e convicção. E como o avô, possuía uma qualidade admirável: não guardava rancor de pessoa alguma. Foram ambos, medularmente nobres”.7

E ainda:

“Do pai, por exemplo, herdara, a generosidade, a desambição, sobretudo o desapego ao dinheiro e aos bens materiais (…) Já a ânsia da caridade, o sonho de contribuir para a felicidade do próximo, a religiosidade, vieram-lhe da mãe, piedosa e mansa por excelência.”8

Como esposa e mãe deu exemplos admiráveis de fidelíssima amorosidade. Dedicada, sempre presente, preocupada com todos, com mais de cinquenta anos de sólida vida matrimonial na rocha da fidelidade aos princípios e valores cristãos. “Se formosa não era, possuía uma alma digna de ser muito amada”.9 Na véspera de suas núpcias, anotou: “Confessamos e comungamos, de manhã. Deus faça que sempre viva feliz com o meu amado Gaston, como espero e creio”.10 E foi, de fato, um casamento regado com afetuosidade mútua, correspondência volitiva, daquele respeito e até admiração que um nutria pelo outro, e de uma força unitiva especialmente nas horas mais difíceis de privação e provação, como vividas na guerra do Paraguai, e a injustiça do longo exílio, que a fez morrer distante do País que tanto amava e que tanto quis trabalhar pelo seu bem.

Dia do casamento da Princesa Isabel com o Conde d’Eu

Muita apreensão lhe causou a guerra do Paraguai, em que o despótico caudilho Solano Lopez desejava desposar uma das filhas de dom Pedro II. Com o agravamento da saúde de Luiz Alves de Lima e Silva, posteriormente Duque de Caixas, foi o Conde d’Eu chamado a ocupar o comando da guerra, na pior fase do conflito. “Ao faltar o esposo tudo lhe faltava, o abandono em que ficou foi doloroso”.11 (…) Tinha-se habituado tanto a viver junto a ele, sempre com ele e para ele, que a sua ausência mormente naquele transe, a desalentava”.12 Mas o dever era um imperativo. “Ele, cioso da condição que o seu casamento impunha e desejoso de ajudar o Brasil, não pensava senão em demandar o campo de batalha, à frente de nossas frentes militares”.13 Sofreu então Isabel a angústia de ver o marido partir para a guerra, quando tudo estava tão incerto. E o esposo aceitou com prontidão a difícil missão.

A vitória brasileira, em março de 1870, confirmou o sentimento de dever cumprido, cabendo ressaltar que “nem de leve cogitamos de impor tributos de vitória a nenhuma povoação ou cidade tomada, nem recolhemos indenização alguma do Paraguai, numa inequívoca demonstração de que lutamos contra o algoz que nos afrontou e agrediu, e não contra o seu povo, digno de todo o respeito e admiração pelos sofrimentos que enfrentou.”14 Dignidade no comando reconhecida até pelos adversários. “Sob as galas da vitória, o regresso de Gastão de Órleans foi festejado com entusiasmo. (…) Feliz, imensamente feliz estava a princesa Isabel ao ter novamente o esposo ao lado.”15 Em uma de suas viagens empreendidas à Europa, com seu esposo, é significativo destacar seu encontro pessoal com Dom Bosco, em maio de 1880.

Mas foi sem dúvida a abolição que a elevou em nossa história, porque sua atuação como governante foi decisiva para o êxito definitivo de uma causa que até hoje toca tão profundamente a alma do povo brasileiro.

Assinatura da Lei Áurea no Paço Imperial

“A princesa Isabel, que sabia do interesse que o seu pai nutria pela emancipação dos que viviam sob o guante da escravidão, a mourejar nas usinas e fazendas, secundava-o nas simpatias pela solução de tão grave problema social, vindo dos longes de nossa colonização. No fundo, talvez nem ela própria soubesse porque, possuindo um trono, mimada por todos desde o nascimento, e, pois, totalmente distante da dolorosa realidade escravista, condoía-se tanto por aqueles que não tinham sequer um travesseiro de sua propriedade sobre que pudessem descansar a cabeça para adormecer sob a exaustão do trabalho servil. Era entretanto a piedade cristã, que lhe falava alto ao coração; era a sua sensibilidade religiosa, que a fazia colocar os postulados da liberdade acima de todas as conveniências político-econômicas, e o anseio de ver o Brasil elevado social e moralmente perante as nações isentas do escravismo. (…) E Isabel, comungando dos sentimentos do pai e do esposo, não se conformava com o regime escravocrata, razão porque não ocultava suas preferências pelo abolicionismo. Dessa posição advieram-lhe acerbas e injustas campanhas das áreas escravistas. Mas como recorda o cônego Manfredo Leite, (…) ‘é mister reconhecer que o manancial onde se lustrou toda essa perfeição moral de d. Isabel, e onde ela hauriu essas energias para as fecundidades da sua bondade e da sua generosidade, foi incontestavelmente a pureza dos princípios cristãos, aos quais tanto se afeiçoou e com os quais se identificou sua larga existência, ora calma e deslisando na amenidade, ora batida pelas tribulações e agitada pelos infortúnios, que põem sobre a sua fronte uns toques dessa beleza dos mártires’” 16

Em 300 anos, de 1550 a 1850 (quando foi promulgada a Lei Eusébio de Queiroz), “segundo a incontestada autoridade de Silvio Romero, nada menos de doze milhões de escravos africanos foram trazidos pelo tráfico às nossas plagas”17. O abolicionismo foi uma daquelas grandes idéias-força (lançada em 1758 pelo advogado baiano Manuel da Rocha), que tomam uma tal proporção, “que uma vez surgidas não param mais, no decurso do tempo, até sua conversão em ato”.18 Isabel foi quem tornou em ato essa grande idéia-força, que custava por se concretizar, devido a resistência dos que ainda queriam viver de um sistema sócio-econômico de cruel abuso de poder. Afinal, os traficantes enriquecidos exerciam muita influência e grandes proprietários fizeram de tudo para retardar o fim da escravidão. Temia-se inclusive a convulsão social, incitamentos e explosões de violência, pois Isabel não desejava repetir aqui os embates de uma guerra civil sangrenta, em episódios traumáticos como ocorreram nos Estados Unidos da América. Teve pouco tempo à frente do País, numa hora grave e decisiva, e teve de agir com sabedoria e determinação. A abolição era uma grande ideia-força que precisava ser concretizada sem derramamento de sangue. Este foi um dos desafios políticos do Segundo Reinado, por isso dom Pedro II estimulou o gradualismo do movimento abolicionista, e Isabel evitou postergar o que há muito já devia ter sido feito, e com sua precisão e coragem política soube fazer história. Pagou caro por isso, perdendo a coroa, que tanto havia se preparado para honrá-la, mas ganhou mais do que isso: a glória de em vida ser chamada de Redentora, mesmo tendo que amargar um injustíssimo ostracismo, longe daqueles que tanto amava.

Temia-se que a abolição da escravatura provocasse graves distúrbios, falência da produção cafeeira, desordem pública, etc. Mas contra tais argumentos, vozes patrióticas, como as de Joaquim Nabuco, entre outros, de excelso valor ético e cívico, se ergueram para demonstrar com fatos, que a abolição significaria a condição imprescindível para o progresso social brasileiro. Muitos abolicionistas eram vistos como idealistas. “A raça negra nos deu um povo!” Bradou a voz de Nabuco, ecoando por toda a Nação esta verdade incontestável. E acrescentou: “Ela construiu o nosso País!”

No momento em que a Princesa Isabel assumiu o governo, sabia que não devia fraquejar diante daquela questão tão candente, que se arrastava por décadas, cuja solução era desejada por seu pai, o Imperador, mas que dependia de deliberação da Câmara e do Senado, e não era tão fácil assim decidir, porque a pressão contrária muito forte poderia colocar em risco sua própria vida e a da própria Monarquia brasileira. Com a sua decisão em cortar de vez aquele nó górdio que maculava o Brasil, “os republicanos entraram paralelamente em campo, dispostos a solapar o regime monárquico”.19 O barão de Cotegipe sugeriu à Regente “manter-se neutra, nessa questão, como a rainha Vitória”. 20 O que Isabel não aceitou, recordando assim, dessa forma, o que nos lembra a severa afirmativa de Dante Aleghieri: “Os lugares mais quentes do inferno são destinados aos que, em tempo de grandes crises, mantêm-se neutros.”

A Lei Áurea, de Spaniard Miguel Navarro Cañizares

Com um gabinete tão hostil, a demissão do ministério foi inevitável, “diante da firmeza da Regente”.20 E assim foi possível chegar ao 13 de maio festivo, em que por meio de uma subscrição popular foi oferecida à Princesa Isabel a pena de ouro para a assinatura da Lei da Abolição.

“Isabel alegre, satisfeita, feliz, toma o barão de Cotegipe pelo braço, leva-o à janela de onde por vezes contemplava a praça, hoje 15 de novembro, e mostrando-lhe a multidão em delírio, pergunta-lhe a voz afável e doce:

– Então, sr. Barão. V. Excia. acha que foi acertada a adoção da lei que acabo de assinar?

Cotegipe, que podia iludir-se e exagerar, como se iludiu e exagerou nas calamitosas previsões do efeito dessa lei, mas que tinha muito de clarividente, fita-a com carinho e responde-lhe, profético:

– Redimistes, sim, Alteza, uma raça; mas perdestes vosso trono…”21

Ela que também havia sancionado a Lei do Ventre Livre (em 28 de setembro de 1871, a histórica “sessão das flores”), no período de sua primeira regência, havia sido coroada com a glória da Lei Áurea, e, em seguida, com a proclamação da República, a sofrer o banimento no estrangeiro.

“No exílio a que foi forçada e onde passou, impiedosamente, o resto da sua existência, que se prolongou por 32 anos sem poder rever sua terra e sua gente, experimentou ela, principalmente no começo, os mais rudes golpes que lhe alancearam o coração. Primeiro, o desaparecimento da mãe estremecida; logo a seguir o pai a quem verdadeiramente adorava. Pouco depois, a perda de todos os seus bens imóveis, transferidos sem remuneração alguma para o patrimônio nacional, exatamente quando mais necessitava de recursos financeiros em terras estranhas; quase três anos adiante, uma nova nota plangente era vibrada na pauta do seu destino: o duque de Nemours, seu sogro, falecia no mesmo apartamento do Hotel des Réservoirs, em Versalhes, onde o Imperador se hospedara antes. Paradoxalmente, porém, se a morte do duque enlutou a alma do casal d’Eu, o triste evento veio desafogar-lhe os dias carentes, terrivelmente críticos, tornando-os menos sombrios e até mais confortáveis. Isso porque , no ano seguinte ao do seu desaparecimento, passou ao conde d’Eu a plena posse da casa em que habitavam em Bolonhe-sur-Seine e pouco mais tarde, também a do histórico castelo d’Eu, onde passaram a residir pelo resto de suas vidas”.22

Talvez nenhuma outra figura política brasileira viveu tanto tempo privada de seus direitos mais legítimos, pois a República lhe banira tudo. E a cada ano que passava no exterior e a idade avançava, apertava-lhe a dor da saudade, das manhãs luminosas do Corcovado, da sua cidade natal, cuja data de seu batismo coincidiu com o triste 15 de novembro, até despedir-se de vez deste mundo, muito próximo também a esta data, um dia antes, em 14 de novembro de 1921. Exílio muito penoso, porque foi uma viagem sem volta. Um desterro em condições muito humilhantes, que se prolongou até o final de sua vida. Mesmo o seu pai, que governou por durante por mais de 40 anos o Brasil, morreu como um hóspede num quarto de hotel, em Paris.

“E o mais singular é que, à medida que o tempo ia passando, mais na princesa se acentuava este traço característico do pai: quanto maior era a saudade que a pungia, maiores eram o carinho e a dedicação que consagrava aos brasileiros. Possuída cada dia mais de uma grandeza de alma que se refletia na suavização cada vez maior do semblante , dir-se-ia ter passado a viver melhor quando se viu desenganada de reconquistar para ela, ou para o filho, o trono que lhe fora destinado ao nascer. Atingida, finalmente, a conformidade, que tanto lhe custou a aceitar, diariamente se encaminhava para a capela do seu castelo, e, joelhos no pequeno genuflexório colocado em frente ao altar, orava para que o Brasil fosse bem sucedido e Deus se servisse de guardar as instituições que o engrandecessem no futuro. Curiosa nobreza de sentimentos cívicos, que a fazia cada vez mais devotada à sua terra e sua gente”.23

Sobre como a princesa Isabel suportou a dureza de seu longo exílio, escreveu Assis Chateaubriand:

“Apagada a sua estrela política, depois de vencida a tormenta da abolição, ela não tinha a expressão dura, uma palavra amarga para julgar um fato ou um homem do Brasil. No mais secreto do seu coração, só lhe encontrávamos a indulgência e a bondade, e este espírito de conduta, esse desprendimento das paixões em que se viu envolvida, era a maior prova de fidelidade, no exílio, à pátria distante. Mais de trinta anos de separação forçada não macularam a alvura dessa tradição de tolerância, de anistia dos agravos do passado, que ela herdara do trono paterno.” 24

Isabel sabia que “um rei cristão tem por função sobretudo (…) governar bem o seu reino, cuidar tanto de seu corpo físico como de seu corpo político e permanecer entre seus súditos”.25 Foi o que procurou fazer nos períodos de sua Regência, e daí a sua dor de não poder permanecer entre os seus, mas mesmo de longe, o seu olhar e o seu coração estavam voltados para o Brasil. No exílio, ela se portou com a dignidade de Imperatriz do Brasil, cujos sofrimentos a purificou, e em todos os momentos permaneceu solícita aos muitos brasileiros que a procuravam e a amavam

“A Princesa Isabel reinou, verdadeiramente, foi no exílio. Aí é que a sua realeza excede o principado político das regências que lhe couberam por motivo das viagens do Imperador à Europa. Ali é que ela surge diante da posteridade com o perfil de uma autêntica Rainha’. Razão por que, ‘todos os brasileiros, pretos e brancos, deveriam ter o culto dessa Rainha de doçura e de bondade. Eu abençoo os que a baniram, porque foi no exílio que ela deu toda a medida da majestade e da magnanimidade do seu coração. Ela viveu no desterro como símbolo da fraternidade, com afirmação da Pátria, acima dos partidos e dos regimes. Debaixo da sua meiguice, da sua adorável simplicidade, quanta fortaleza de caráter, quanto heroísmo, quantas obras valorosas!”26

Caríssimo Dom Orani,

Muito teríamos a dizer ainda sobre as virtudes santificadoras da Princesa Isabel, que merecem serem melhor estudadas e conhecidas, porque nesses 90 anos decorridos de sua morte, ao longo do século XX e começo deste século, as sombras ideológicas que dominaram o cenário cultural e político do Brasil tudo fizeram para encobrir o perfume e a luz desta vida radiosa em nossa história, e que hoje pensamos ser possível fazer justiça.

Nesse sentido, solicitamos a Vossa Reverendíssima, a nomeação de um prelado da vossa Arquidiocese para ser o postulador desta causa, que certamente permitirá aos brasileiros conhecerem melhor e a amar mais aquela que muito fez pelo bem do nosso País. Não temos dúvida, de que o acesso aos documentos, às fontes históricas, revelarão uma vida edificante que muito motivará aos brasileiros e de modo especial aos fiéis católicos, a perseverarem na esperança de seguir o caminho de verdade e vida proposto por Nosso Senhor Jesus Cristo, via certa da salvação. E que a Virgem Maria Santíssima, Mãe de Deus e Rainha do Céu, interceda por esta causa, para o bem de todos.

Gratíssimos!

Prof. Hermes Rodrigues Nery

Coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida – Movimento Legislação e Vida

Diocese de Taubaté

Mariângela Consoli de Oliveira

Secretária-Executiva

Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família

Brasília – DF


Bibliografia:

1. Hermes Vieira, Princesa Isabel – Uma Vida de Luzes e Sombras, p. 145, Edições GRD, São Paulo, 3ª edição, 1990

2. Tullo Goffi, Dicionário de Espiritualidade, Heroismo, p. 476; Paulus, 2ª edição, 1993.

3.http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_EduardoSilva_Camelias_Leblon_abolicao_escravatura.pdf

4. Hermes Vieira, Princesa Isabel – Uma Vida de Luzes e Sombras, p. 27, Edições GRD, São Paulo, 3ª edição, 1990.

5. Ib. p. 52.

6. Ib. p. 11.

7. Ib. p. 12.

8. Ibidem.

9. Ib. p. 69.

10. Ib. p. 42.

11. Ib. p. 75.

12. Ibidem.

13. Ib. p. 76.

14. Ib. p. 90.

15. Ib. p. 91.

16. Ib. p. 93.

17. Ib. p. 99.

18. Ib. p. 100.

19. Ib. p. 147.

20. Ib. p. 152.

21. Ibidem.

22. Ib. p. 161.

23. Ib. pp. 231-232.

24. Ib. p. 232.

25. Ibidem.

26. Jacques Le Goff, São Luis, p. 147, Ed. Record, 3ª edição, 2002.

27. Hermes Vieira, Princesa Isabel – Uma Vida de Luzes e Sombras, p. 233, Edições GRD, São Paulo, 3ª edição, 1990

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

CARTA APOSTÓLICA DE SS. LEÃO XIII À PRINCESA ISABEL


À muita amada em Cristo Filha Nossa, Saúde e Benção Apostólica.
As preclaras virtudes que adornam Tua pessoa e as brilhantes demonstrações de singular dedicação que Nos deste a Nós e a esta Sé Apostólica, pareceu-Nos mereceriam sem dúvida um testemunho particular e insigne de Nosso Apreço e paternal afeto para contigo.
Para te apresentarmos porém esse testemunho, nenhuma oportunidade mais favorável podia dar-se, conforme entendemos, do que a atual. Com efeito, novo esplendor acaba de realçar ainda mais os Teus louvores por ocasião da Lei que aí foi recentemente decretada e por Tua Alteza Imperial sancionada, relativa àqueles que, achando-se nesse Império Brasileiro, sujeitos à condição servil, adquiriram em virtude da mesma lei a dignidade e os direitos de homens livres.
Assim, pois, muito amada em Cristo Filha Nossa, Nós te enviamos de mimo a Rosa de Ouro que, ao pé do altar, consagramos com a prece apostólica e os demais ritos sagrados, consoante a usança antiga de Nossos Predecessores.
Por esta razão investimos do caráter de Nosso Delegado apostólico ao amado Filho Francisco Spolverini, Nosso Prelado Doméstico e Protonotário Apostólico, que exerce as funções de Internúncio e de Enviado extraordinário Nosso e desta Santa Sé, junto ao muito amado em Cristo Filho Nosso Pedro II Imperador do Brasil, e na ausência dele junto à Tua Alteza Imperial, com o fim de levar-Te a referida Rosa e de exercer o honrosíssimo ministério de fazer-Te a tradição dela, observando as sagradas cerimônias do estilo.
Nesse mimo, porém, que Te ofertamos, é desejo Nosso que Tua Alteza Imperial não olhe para o preço do objeto e seu valor, mas atenda aos mais sagrados mistérios por ele significados. Assim é que nessa flor e no esplendor do ouro se manifesta Jesus Cristo e sua suprema Majestade. É Ele que se denomina a flor do campo e o lírio dos vales. Na fragrância da mesma flor se exibe um símbolo do bom odor de Cristo, que ao longe rescendem todos os que cuidadosamente imitam as suas virtudes.
Daí é impossível que o aspecto deste mimo não inflame cada vez mais o Teu zelo em respeitar a religião e em trilhar a vereda árdua, sim, mas esplêndida da virtude.
No entanto, implorando toda a sorte de prosperidades e venturas para Ti, e todo o Império Brasileiro, muito afetuosamente no Senhor outorgamos a Benção Apostólica a Ti, muito amada em Cristo Filha Nossa, e à Tua Imperial Família.
Dado em Roma, junto a São Pedro, sob o Anel do Pescador, no dia 29 de maio do ano de 1888, IIº no Nosso Pontificado.


Cardeal Carlo Nocella

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Morte de D. Pedro II e de D.Isabel.

Morte de D. Pedro II e de D.Isabel.











D.Pedro II:À cabeceira do leito modesto onde jazia, magro, o corpo comprido, as barbas muito brancas, empastadas sobre o peito, sua querida Isabel, Gaston, os netinhos e alguns poucos dos últimos fiéis choravam em silêncio o fim daquela grande e nobre vida. À noite, por volta das dez horas, ele teve um momento de consciência, justamente quando o Cura da Madalena lhe administrava a extrema-unção. Mas logo depois caía novamente em prostração. A respiração foi-se fazendo cada vez mais lenta e imperceptível. O pulso mais fraco. Sua bela cabeça branca pendia brandamente sobre o ombro esquerdo. Os olhos, semi-cerrados, apagavam-se. A respiração, já agora, era quase nenhuma, ia aos poucos sumindo. Até que silenciosamente, suavemente, sem um gemido, sem uma contração, como um justo que era, ele rendeu no silêncio daquela triste madrugada de exílio, a sua grande alma ao Criador".




















História de D. Pedro II, Heitor Lyra, volume terceiro da Brasiliana, São Paulo, 1939. Citação à página 308.




















D. Isabel:" No dia 11 de novembro, uma sexta-feira, ela entrou no seu carro para o passeio que habitualmente fazia pelos arredores do castelo. ( Castelo D`Eu). O céu estava límpido e a atmosfera diáfana. Em torno, tudo era tranquilidade e paz. Súbito, os ventos começaram a soprar fortemente, promovendo uma brusca mudança na temperatura. Uma rajada invadiu o carro, rodopiou no seu rosto, afetando-lhe a boa disposição com que começara o seu passeio. Ao regressar ao Castelo já não se sentia bem. Estava resfriada, mas não quis acamar. Permaneceu de pé até a noite do dia seguinte. Ao amanhecer do domingo, porém, não pôde mais levantar-se. Faltaram-lhe as forças de que fora tão bem servida até há bem pouco tempo. Não cedendo o mal-estar que sentia, foi chamado o médico. À tardinha a pulsação se alterou e a respiração foi se tornando cada vez mais difícil, até que sobreveio a dispnéia acompanhada de febre, que, subindo sempre, culminou na congestão pulmonar. Sentindo ela própria a gravidade de seu estado, pediu a presença de Monsenhor Delair, preceptor de Dom Pedro Henrique, capelão da Família Imperial e prelado doméstico do papa, a quem se confessou.Durante toda a noite continuou numa alternativa de aparente melhora e repentina piora. Na madrugada de segunda-feira entrou em agonia, lenta e suave. Em dado momento, todos supuseram que havia recuperado as forças perdidas. Entreabriu os olhos e os relanceou pelo ambiente, mas logo tomou-se de uma vaga expressão de quem se abandona e vai lentamente adormecendo. Os lábios cerram-se e o rosto imobiliza-se. Ouvem-se soluços. O relógio, num som metálico que mais parecia um lamento, bate dez pancadas. No lugar por ele ocupado o calendário assinala: 1921-novembro - dia 14 - segunda-feira".Princesa Isabel, uma vida de luzes e sombras. Hermes Vieira. Segunda edição refundida. São Paulo. Edições GRD, 1989. 265pp. Citação à página 237.















Apenas uma palavra. Trinta anos separam as duas mortes. E como se fazem iguais. A mesma morte, no conforto dos Santos Sacramentos, a mesma dignidade que reina em ambas as situações. Viveram e morreram príncipes. Da morte da última, ouvi dos lábios de D.Pedro Henrique, seu neto, e que menino lhe sentara ao colo. Possamos nós viver e morrer com a dignidade desses Príncipes que banimos de nossa Pátria.