sábado, 31 de dezembro de 2011

O ERRO DO IBERISMO



Pretendo divulgar aqui umas notas de Mário Saraiva sobre o erro do iberismo, publicadas em Lisboa,  2ª edição, em 1972, em Cadernos-Pensamento Político. A razão dessa divulgação é que o erro do iberismo começa a grassar em nosso pais divulgado por pseudo-tomistas.  Vejamos então do que se trata:

 "Temos na nossa frente o livro 'Fédération Ibérique', escrito em 1892, da autoria de Magalhães Lima, antigo grão-mestre da Maçonaria e director de 'O SÉCULO.'
"Traduzimos à letra, da 3ª página do Prefácio, o trecho que se segue:
"'- Eis o que eu preconizo. Republicano convicto, concentro os meus esforços para chegar à República portuguesa e em seguida a uma Federação entre a Espanha e Portugal. A República proclamada nestes dois países terá como consequencia a Federação Ibérica.'
"Mais umas passagens fundamentais do livro de Magalhães Lima:
"A págs. 145 lê-se:
"' - Ofundador do partido republicano português era um federalista.
'O verdadeiro fundador das doutrinas republicanas em Portugal foi José Félix Henriques Nogueira. Sobre o seu túmulo, os seus amigos inscreveram estas palavras significativas:- Apóstolo ardente da liberdade, da fraternidade, ele foi o grande propagandista da doutrina democrática e da idéia de uma federação política com a Espanha.'
A págs. 151 prossegue Magalhães Lima:
"'- Como campeões desta idéia, nós podemos também citar Antonio de Oliveira Marreca, que, em 1848, fez parte do primeiro triunvirato republicano com José Estêvão Coelho de Magalhães e Antonio Rodrigues Sampaio.
"A estes é preciso juntar: Sousa Brandão e latino Coelho, o primeiro a proclamar na Câmara dos Pares os princípios republicanos.'
E a págs. 175 escreve:
"'- O partido republicano não pode ser senão federalista. Em primeiro lugar, é esta a tradição que nos legaram os nossos chefes...'"

Quem foram os Iberistas.

"No livro que vimos citando, 'Féderation Iberique,' informa Magalhães Lima:
"O movimento federalista assinala-se por toda a parte em portugal. Os jornais republicanos defendem esta ideia com calor e entusiasmo' (pág.209).
"As conferências sucedem-se. Gomes da Silva (director político do órgão republicano 'O DIA'), um dos jornalistas mais distintos do partido republicano português, acaba também de fazer, sobre a Federação peninsular, uma brilhante dissertação' ( pág. 210).
"Eduardo de Abreu...este ardente republicano compreende como nós a necessidade de uma federação ibérica' (pág. 216).
"Braga é o centro católico do país. É a cidade onde os ultramontanos contam o maior número de adeptos. Pois bem! É do jornal 'A LUTA,' desta mesma cidade, que nós tiramos algumas considerações sobre a Federação Ibérica. O autor deste artigo é Borges Grainha, professor do liceu e um dos mais ardentes e inteligentes campeões da causa republicana em Portugal. Publicou duas obras notáveis contra o Jesuitismo (pág. 252): '- A Federação não pode ter por base senão a forma republicana; é por esta que a ideia de uma república ibérica e federal tomou raizes em toda a península.' ( págs. 254-255)."

Observa-se logo o descaso dos iberistas para com as tradições portuguesas. Desprezam o Estado-nação e promovem um Portugal que eventualmente seria absorvido por uma Espanha maior e mais populosa. Aqui, desprezam nossas tradições imperiais. Repudiam nossa Bandeira, símbolp do nosso Estado-nação e querem nos submergir numa proposta ibérica em que ficaríamos sozinhos com os portugueses no meio de uma quantidade sem fim de republiquetas ibéricas! Nosso carinho à Espanha, a Portugal, e a nossos vizinhos latino americanos. Nosso não ao iberismo.

Paulo Evaristo "Woolf"

A SER CONTINUADO...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

CARTA APOSTÓLICA DE SS. LEÃO XIII À PRINCESA ISABEL


À muita amada em Cristo Filha Nossa, Saúde e Benção Apostólica.
As preclaras virtudes que adornam Tua pessoa e as brilhantes demonstrações de singular dedicação que Nos deste a Nós e a esta Sé Apostólica, pareceu-Nos mereceriam sem dúvida um testemunho particular e insigne de Nosso Apreço e paternal afeto para contigo.
Para te apresentarmos porém esse testemunho, nenhuma oportunidade mais favorável podia dar-se, conforme entendemos, do que a atual. Com efeito, novo esplendor acaba de realçar ainda mais os Teus louvores por ocasião da Lei que aí foi recentemente decretada e por Tua Alteza Imperial sancionada, relativa àqueles que, achando-se nesse Império Brasileiro, sujeitos à condição servil, adquiriram em virtude da mesma lei a dignidade e os direitos de homens livres.
Assim, pois, muito amada em Cristo Filha Nossa, Nós te enviamos de mimo a Rosa de Ouro que, ao pé do altar, consagramos com a prece apostólica e os demais ritos sagrados, consoante a usança antiga de Nossos Predecessores.
Por esta razão investimos do caráter de Nosso Delegado apostólico ao amado Filho Francisco Spolverini, Nosso Prelado Doméstico e Protonotário Apostólico, que exerce as funções de Internúncio e de Enviado extraordinário Nosso e desta Santa Sé, junto ao muito amado em Cristo Filho Nosso Pedro II Imperador do Brasil, e na ausência dele junto à Tua Alteza Imperial, com o fim de levar-Te a referida Rosa e de exercer o honrosíssimo ministério de fazer-Te a tradição dela, observando as sagradas cerimônias do estilo.
Nesse mimo, porém, que Te ofertamos, é desejo Nosso que Tua Alteza Imperial não olhe para o preço do objeto e seu valor, mas atenda aos mais sagrados mistérios por ele significados. Assim é que nessa flor e no esplendor do ouro se manifesta Jesus Cristo e sua suprema Majestade. É Ele que se denomina a flor do campo e o lírio dos vales. Na fragrância da mesma flor se exibe um símbolo do bom odor de Cristo, que ao longe rescendem todos os que cuidadosamente imitam as suas virtudes.
Daí é impossível que o aspecto deste mimo não inflame cada vez mais o Teu zelo em respeitar a religião e em trilhar a vereda árdua, sim, mas esplêndida da virtude.
No entanto, implorando toda a sorte de prosperidades e venturas para Ti, e todo o Império Brasileiro, muito afetuosamente no Senhor outorgamos a Benção Apostólica a Ti, muito amada em Cristo Filha Nossa, e à Tua Imperial Família.
Dado em Roma, junto a São Pedro, sob o Anel do Pescador, no dia 29 de maio do ano de 1888, IIº no Nosso Pontificado.


Cardeal Carlo Nocella

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

SUBSIDIARIDADE

Princípio da subsidiariedade segundo ensinamento dos Sumos Pontífices


É esta a definição do Princípio da subsidiariedade dada pelo Papa Pio XI: " Verdade é, e a História demonstra abundantemente que, devido à mudança de condições, só as grandes sociedades podem levar hoje a efeito o que antes podiam até mesmo as pequenas; permanece, contudo, imutável aquele solene princípio da filosofia social: assim como é injusto subtrair aos indivíduos o que eles podem efectuar com a própria iniciativa e indústria, para o confiar à colectividade, do mesmo modo passar para uma sociedade maior e mais elevada, o que as sociedades menores e inferiores podiam conseguir, é uma injustiça, um grave dano e perturbação da ordem social. O fim natural da sociedade e da sua acção é coadjuvar os seus membros, não destruí-los nem absorvê-los." ( Cfr. Encíclica Quadragesimo Anno, n. 79).
O Papa João Paulo II afirmou: "Também neste âmbito, se deve respeitar o princípio de subsidiariedade: uma sociedade de ordem superior não deve interferir na vida interna de uma sociedade de ordem inferior, privando-a das suas competências, mas deve antes apoiá-la em caso de necessidade e ajudá-la a coordenar a sua acção com a das outras componentes sociais, tendo em vista o bem comum." ( Cfr. Encíclica Centesimus Annus, n. 48).

Paulo Evaristo "Woolf"


Para um melhor entendimento da importante questão dos corpos intermédios e do princípio da subsidiariedade, recomendamos o livro O MERCADO LIVRE NUMA SOCIEDADE CRISTÃ ,de autoria de Adolpho Lindemberg, publicado no Porto,Portugal, pela Livraria Civilização Editora em 1999. 316pp.

RETRATATIO

Como ordena a boa educação, princípio da caridade, uso nosso blog para retratar-me de uma impostura feita ao Seminário Permanente de Estudos Sociopolíticos. De fato, após ver a impostura feita por um deles com o Brasão da Família Imperial, me pus a fazer o mesmo com o escudo deles e asosciá-los à ingestão de fezes. Visto que não foi nobre minha postura diante da querela, peço perdão público pelo pseudo-palavrão ofensivo às consciências que se afetaram. Mas, se o fiz, foi por estar abolutamente indgnado pelo modo igualmente ofensivo com o qual tratam os símbolos pátrios, o Brasão da Família Imperial, símbolo que inclui não só Dom Luiz e Dom Bertrand a quem criticam e de quem afastam os monarquistas católicos, mas Dom Antônio e seu filho, Dom Rafael, que não são da TFP, criticada pelos membros do Spes; Dom Pedro Henrique e sua esposas Dona Maria da Baviera, pais de Dom Luiz; Dom Luiz Maria Gastão, irmão do precedente e tio do atual Chefe da Casa Imperial, um santo, pelas palavras do Cardeal de Paris, que em seu Requiem dizia que ao invés de rogar por ele pediria que ele rogasse por si, e de quem publicaremos a história baseada em Monsenhor René Delair, seu confessor; Dom Luiz, o Príncipe Perfeito, filho da Princesa Isabel, pai de Dom Pedro Henrique e de Dom Luiz Maria; a Princesa Isabel, que a que pese as críticas, fundadas ou não, isso desinteressa ao nosso grupo, teve seu processo de beatificação aberto, e de fato, só pela maçonaria não ter permitido seu reinado já me basta para merecer meu devido respeito; e ao Conde d'Eu, Príncipe Consorte, filósofo tomista e gênio militar e católico fervoroso que em sua avançada velhice assistiu à todos as atividades do congresso Eucarísitco de Roma. Toda essa gente foi ofendida por este ato, que não obstante, permanece sem reparação, mas por este motivo me inflamou o espírito, e usei a palavra imodesta da qual retrato-me, esperando a mesma nobreza em troca.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

ALVARÁ DE DOM JOÃO VI CONTRA A MAÇONARIA

Alvará de Sua Magestade Dom João VI contra as Sociedades Secretas


 
"Eu El Rei faço saber aos que este alvará com força de lei virem, que tendo-se verificado pelos acontecimentos que são bem notórios o excesso de abuso a que tem chegado as Sociedades Secretas, que, com diversos nomes de ordens ou associações, se tem convertido em conventiculos e conspirações contra o Estado , não sendo bastantes os meios correcionaes com que se tem até agora procedido segundo as leis do Reino, que prohibem qualquer sociedade, congregação ou associação de pessoas com alguns estatutos, sem que elas sejão primeiramente por mim autorisadas, e os seus estatutos approvados: e exigindo por isso, a tranquilidade dos povos, e a segurança que lhes devo procurar e manter, que se evite a ocasião e a causa de se precipitarem muitos vasallos, que antes podião ser uteis a si e ao Estado, se forem separados delles, e castigados os perversos como as suas culpas merecem; e tendo sobre esta materia ouvido o parecer de muitas pessoas doutas e zelosas do bem do Estado, e da felicidade dos seus concidadãos, e de outras do meu Conselho e constituidas em grandes empregos, tanto civis, como militares, com as quais me conformei: sou servido declarar por criminosas, e proibidas tôdas e quaesquer sociedades secretas de qualquer denominação que ellas sejão, e com os nomes e forma já conhecidos, ou debaixo de qualquer nome ou forma que de novo se disponha e imagine; pois que todas e quaesquer deverão ser consideradas d'agora em diante, como feitas para conselho e confederação contra o Rei e contra o Estado"

Alvará Real de 30 de Março de 1818

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Oremus pro Cristianissimo Imperatore Nostro Petro

D.PEDRO II


Despercebidos de todo passaram-se este mês dois aniversários.
A 2 de dezembro nasceu, a 5 de dezembro faleceu D. Pedro II. Quem foi este homem que não deixou lembranças neste país? Apenas um imperador...Um imperador que reinou apenas durante 58 anos...tirano? Despótico? Equiparável a qualquer facínora coroado? Não, apenas a Marco Aurélio.
A velha dinastia bragantina alcançou com ele esse apogeu de valor mental e moral que já brilhou em Roma, na família Antonina, com o advento de Marco Aurélio.
Só lá, nesse período feliz da vida romana, é que se nos depara o sósia moral de Pedro II.
A sua função no formar da nacionalidade brasileira não está bem estudada.
Era um ponto fixo, era uma coisa séria, um corpo como os há na natureza, dotado de força catalítica.
Agia pela presença.
O fato de existir na cúspide da sociedade um símbolo vivo e ativo e Honestidade no trono.
O político visava o bem público, se não por determinismo de virtudes pessoais, pela influência catalítica da virtude imperial.
As minorias respiravam, a oposição possibilizava-se: o chefe permanente das oposições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível.
O peculatário, o defraudor, o político negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso, o mau cidadão enfim, e mau por força de pendores congeniais, passava, muitas vezes, a vida inteira sem incidir num só deslize.
A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à violência, à iniqüidade – mas sofreava as rédeas aos maus instintos a simples presença da eqüidade e da Justiça no trono.
Ignorávamos isso na monarquia.
Foi preciso que viesse a república, e que alijasse do trono a força Catalítica para patentear-se bem claro o curioso fenômeno.
A mesma gente, - o mesmo juiz, o mesmo político, o meso soldado, o mesmo funcionário até 15 de novembro honesto, bem intencionado, bravo e cumpridor dos deveres, percebendo, na ausência do imperial freio, ordem de soltura, desaçamaram a alcatéia dos maus instintos mantidos em quarentena.
Daí, o contraste dia a dia mais frisante entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob qualquer das boas intenções quadrienais que se revezam na curul republicana.
Pedro II era a luz do baile.
Muita harmonia, respeito às damas, polidez de maneiras, jóias d’arte sobre os consolos, dando o conjunto uma impressão genérica de apuradíssima cultura social.
Extingue-se a luz. As senhoras sentem-se logo apalpadas, trocam-se tabefes, ouvem-se palavreados de tarimba, desaparecem as jóias...
Como, se era a mesma gente!
Sim, era a mesma gente. Mas em formação, com virtudes cívicas e morais em início de cristalização.
Mais um século de luz acesa, mais um século de catálise imperial, e o processo cristalizatório se operaria completo.
Animal, domesticado de vez, dispensaria açamo. Consolidar-se-iam os costumes, enfibrar-se-ia o caráter.
E do mau material humano com que nos formamos, sairia, pela criação duma segunda natureza, um povo capaz de ombrear-se com os mais apurados em cultura.
Para esta obra moderadora, organizadora, cristalizadora, ninguém mais capaz do que Pedro II; nenhuma forma de governo melhor do que sua monarquia.
Mas sobrevém, inopinada, a república.
Idealistas ininteligentes, emparceirados com a traição e a inconsciência da força bruta, substabelecem-se numa procuração falsa e destroem a obra de Pedro II “em nome da nação”.
A nação não reage, inibida pela surpresa, e também porque lhe acenam logo com um programa de maravilhas, espécie de paraíso na terra.
É sempre assim. Não variam com a longitude nem com a latitude os processos psicológicos de assalto ao poder.
Aqui, assaltado o poder e conquistadas as posições, houve um geral arrancar de máscaras: - Enfim, sós!
O “Alagoas” levava a bordo a luz importuna, a luz que empatava. E começou a revista de ano que há trinta anos diverte o país.
Que diverte, mas que envenena.
Que envenena e arruína.
O que havia de cristalização social dissolve-se, volta ao estado de geléia.
Sucedem-se na cena os atores, gingam-se as mesmas atitudes, murmuram-se as mesmas mensagens, reeditam-se eternas promessas.
O povo, cansado e descrente, farto de uma palhaceira destituída da mínima originalidade, cochila nas arquibancadas. Nem aplauso, nem assobia, - dorme, e sonha, entre outras coisas, com o inopinado surto em cena de um delegado de polícia loiro e dez praças de uniforme desconhecido que ponham fim à pantomina.
Não intervém para realizar por mãos próprias o “basta”, porque se sente tão gelatinoso como os atores. Nada o galvaniza, não o espante nenhum jangotisnmo de Tony. Abudistado, assiste até ao indecoroso matar-se em massa.
As cenas do ano 1900 desenroladas na capital da república, durante a última epidemia, são “os noves fora nada” da obra do 15 de novembro. A máquina governamental, caríssima, não funciona nos momentos de crise. Não é feita para funcionar, senão para sugar com fúria acarina o corpo doente do animal empolgado.
De norte a sul o povo lamuria a sua desgraça e chora envergonhado o que perdeu.
Tinha um rei. Tem sátrapas.
Tinha dinheiro. Tem dívidas.
Tinha justiça. Tem cambalachos de toga.
Tinha parlamento. Tem ante-salas de fâmulos.
Tinha o respeito do estrangeiro. Tem irrizão e desprezo.
Tinha moralidade. Em o impudor deslavado.
Tinha soberania. Tem cônsules estrangeiros assessorando ministros.
Tinha estadistas. Tem pegas.
Tinha vontade. Tem medo.
Tinha leis. Tem estado de sítio.
Tinha liberdade de imprensa. Tem censura.
Tinha brio. Tem fome.
Tinha Pedro II. Tem...não tem!
Era. Não é.
Numa época terrível para a vida universal, em que cada país procura chefiar-se por intermédio dos homens de suprema energia. Wilson, Lloyde George, Clemenceau, Ebert, o Brasil apalpa o pescoço e não sente cabeça. Chegou a maravilha teratológica duma acefalia inédita.
Anos atrás foi apresentado à Cãmara dos Deputados um projeto de lei mandando trasladar os restos de Pedro II para a terra natal.
A consciência desse ramo legislativo, num assomo de revivescência, votou, em apoteose, a lei. Maurício de Lacerda definira, nesse dia, a política republicana, como feita de alcoures e corrilhos.
A Câmara desmentiu-o por cinco votos. Mas o senado confirmou-lhe o asserto, por quase unanimidade. Não convinha á turba de sarcorhamphus pacificamente acomodada em torno da presa a devorar – a Pátria – a trasladação dos restos mortais. Quem sabe, conservariam essas cinzas algo da misteriosa força que caracterizou em vida Pedro II? E viriam elas – agindo pela presença – perturbar a paz do festim? “Nada, não perturbemos nossa digestão” – pensou o senado. E o projeto caiu.
O Brasil é uma nação a fazer. Ou refazer, já que destruíram os alicerces da primeira tentativa séria.
Cortado o fio da evolução natural, baralhados os materiais, dispensados os operários honestos e hábeis, hipotecadas as suas rendas, a política de hoje vive de uma indústria nova: aluguel de consciência. Cada empresa estrangeira aluga uma série. De uma, a mais poderosa de todas, é sabido que chegou á perfeição de fichar comercialmente o preço de homens públicos.
É a deliquescência final, o esverdear...
Este estado de coisas é, entretanto, galvanizável. Bastaria repor na máquina que tudo coordena, - essa força catalítica sem a qual nenhum povo como o nosso, instável, em formação, produto dos mais díspares elementos étnicos, conseguiu jamais alcançar as etapas sucessivas da nacionalidade.
Um homem, uma continuidade de ação, um pulso – o bisneto de Marco Aurélio ou Rosas.
A força mansa que norteia o evoluir ou a força que arrasa, desespera, e cria pela dor o instinto de defesa,
Tudo é preferível ao reino manhoso dos guzanos de boca dupla – uma que mente para o povo, outra que rói até aos ossos.
Esperemos em Anhangá, o deus brasileiro. Peçamos-lhe, neste mês dos aniversários imperiais, que ressuscite e reponha no seu lugar o espírito bom que neutralizava a influência dos espíritos maus.
É a nossa derradeira esperança, Anhangá...

Monteiro Lobato (publicado originalmente na Revista do Brasil, n 36, págs;387/391 -Edição de Dezembro de 1918, Vol. IX - Ano III, e novamente postada pelo Círculo Monárquico de Aracajú).