segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Morte de D. Pedro II e de D.Isabel.

Morte de D. Pedro II e de D.Isabel.











D.Pedro II:À cabeceira do leito modesto onde jazia, magro, o corpo comprido, as barbas muito brancas, empastadas sobre o peito, sua querida Isabel, Gaston, os netinhos e alguns poucos dos últimos fiéis choravam em silêncio o fim daquela grande e nobre vida. À noite, por volta das dez horas, ele teve um momento de consciência, justamente quando o Cura da Madalena lhe administrava a extrema-unção. Mas logo depois caía novamente em prostração. A respiração foi-se fazendo cada vez mais lenta e imperceptível. O pulso mais fraco. Sua bela cabeça branca pendia brandamente sobre o ombro esquerdo. Os olhos, semi-cerrados, apagavam-se. A respiração, já agora, era quase nenhuma, ia aos poucos sumindo. Até que silenciosamente, suavemente, sem um gemido, sem uma contração, como um justo que era, ele rendeu no silêncio daquela triste madrugada de exílio, a sua grande alma ao Criador".




















História de D. Pedro II, Heitor Lyra, volume terceiro da Brasiliana, São Paulo, 1939. Citação à página 308.




















D. Isabel:" No dia 11 de novembro, uma sexta-feira, ela entrou no seu carro para o passeio que habitualmente fazia pelos arredores do castelo. ( Castelo D`Eu). O céu estava límpido e a atmosfera diáfana. Em torno, tudo era tranquilidade e paz. Súbito, os ventos começaram a soprar fortemente, promovendo uma brusca mudança na temperatura. Uma rajada invadiu o carro, rodopiou no seu rosto, afetando-lhe a boa disposição com que começara o seu passeio. Ao regressar ao Castelo já não se sentia bem. Estava resfriada, mas não quis acamar. Permaneceu de pé até a noite do dia seguinte. Ao amanhecer do domingo, porém, não pôde mais levantar-se. Faltaram-lhe as forças de que fora tão bem servida até há bem pouco tempo. Não cedendo o mal-estar que sentia, foi chamado o médico. À tardinha a pulsação se alterou e a respiração foi se tornando cada vez mais difícil, até que sobreveio a dispnéia acompanhada de febre, que, subindo sempre, culminou na congestão pulmonar. Sentindo ela própria a gravidade de seu estado, pediu a presença de Monsenhor Delair, preceptor de Dom Pedro Henrique, capelão da Família Imperial e prelado doméstico do papa, a quem se confessou.Durante toda a noite continuou numa alternativa de aparente melhora e repentina piora. Na madrugada de segunda-feira entrou em agonia, lenta e suave. Em dado momento, todos supuseram que havia recuperado as forças perdidas. Entreabriu os olhos e os relanceou pelo ambiente, mas logo tomou-se de uma vaga expressão de quem se abandona e vai lentamente adormecendo. Os lábios cerram-se e o rosto imobiliza-se. Ouvem-se soluços. O relógio, num som metálico que mais parecia um lamento, bate dez pancadas. No lugar por ele ocupado o calendário assinala: 1921-novembro - dia 14 - segunda-feira".Princesa Isabel, uma vida de luzes e sombras. Hermes Vieira. Segunda edição refundida. São Paulo. Edições GRD, 1989. 265pp. Citação à página 237.















Apenas uma palavra. Trinta anos separam as duas mortes. E como se fazem iguais. A mesma morte, no conforto dos Santos Sacramentos, a mesma dignidade que reina em ambas as situações. Viveram e morreram príncipes. Da morte da última, ouvi dos lábios de D.Pedro Henrique, seu neto, e que menino lhe sentara ao colo. Possamos nós viver e morrer com a dignidade desses Príncipes que banimos de nossa Pátria.

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