terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

UM JOVEM PRÍNCIPE CRISTÃO - PARTE III (FINAL)


ERA PRECISO

Estas lembranças nos mostram uma natureza elevada ao Supremo Bem por dons superiores de nascença num meio favorável. Uma personalidade não tem a docilidade de uma muda tratada com cuidados especiais por um jardineiro artista. Exige mais, necessitará sempre da colaboração do livre arbítrio contra a soma das más tendências herdadas ou, cuja insidiosa companhia até os melhores entre nós tem que combater.
Naquele rapaz de vinte anos, tão correto e educado, ninguém podia ver o menino tímido e selvagem, a quem era preciso repreender para que consentisse em se apresentar. Uma vez fugiu dum beijo de D. Amélia, Rainha de Portugal. Episódio vituperado pelo Conde D'Eu:"Onde já se viu! Negar-se a beijar a Rainha!"
- É verdade - concordava mais tarde - confesso que aquilo não foi muito delicado, sobretudo tratando-se duma Rainha!."
A razão para empreender uma ação estava justamente no grau de dificuldade que esta exigia. Ouvira isto, muitas vezes, de boca paterna, e também muitas vezes aplicou tal princípio, lembrando-se dele diretamente ou sofrendo sua ação no subconsciente. D. Luís Gastão era voluntarioso, mas com calma e dignidade; conforme a razão e não conforme o capricho.
Com 14 anos demonstrou um domínio de si superior á sua idade. Guiando sua bicicleta, seguia seu preceptor que ia guiando na calçada, e não viu um enorme Packard que vinha silenciosamente, e com a roda traseira, o atirou com sua bicleta na pedra da calçada. Os que passavam acorreram e o Conde Tyszkiewicz, julgara ser um acidente fatal, enquanto D. Luís se levantou, sacudiu a poeira e declarou querer voltar para casa. Foi elvado á Vila Maria Teresa no carro que o atropelara. Recusou ajuda para subir as escadas, e cambaleando manteve-se em pé. O médico, apenas lhe recomendou repouso, por não encontrar fraturas, e o avô Caserta, apenas lhe inspecionou, lhe disse: Isso não foi nada.
Certos episódios médicos, acrescentam ao dito anterior.
Certa feita, necessitou tirar um cisco preso á mucosa da pálpebra. Teve que revirar as pálpebras para tanto. "Este seu aluno é corajoso, padre!" - disse à Monsenhor René Delair, o médico.
Outra quando foi preciso retirar uma farpa presa à unha. V. A. I. é de uma família de bravos! - Exclamou o médico.
A mesma força de vontade, aplicava nos estudos. Qaundo reagia vilentamente contra uma matéria que lhe desgostava, com um: "Não faço mais!", logo o reprimia com um: "Que estupidez desistir assim. Vou tentar de novo.” Estupidez. Notem bem a palavra. Sempre a razão levando a vontade pelo caminho certo. Suas redações eram cobertas de rasuras e sua caligrafia pesada. Mas a linguagem perfeita, com uma ortografia francesa conquistada com muita luta.
Não procurava a glória em seus trabalhos. Só permitira que eu lêsse suas redações á D. Maria Pia por eu dar-lhe argumento razoável. A razão sempre o vencia.
Nada lhe era mais desagradável que um elogio: "Da próxima vez farei bobagem para me passar por menos inteligente e me deixarão em paz."
Classificando-se em primeiro lugar num concurso, atribuiu a vitória á facilidade do tema.
Traçava com mãos hábeis obtendo temas de muito bom gosto com aquarela. Sempre notando os defeitos e retoques apontados pelo professor. Esculpia em cera pequenos cavalos com formas precisas e elegantes, bem como em cartolina, pequenos aviões, que oferecia ao primeiro que se encantasse com eles.
Preferia no entanto o esporte, sempre deixando-o ao ser chamado. "É chato, mas era preciso.
Sem nenhum pedantismo, anunciava alegremente um: " Decidi... " E sua decisão era executada.
Consagrava horas á leitura, depois de muito esforço em adquirir o hábito de ler. Compreendera o calor desse dever intelectual, e ali encontrava novas diretivas para sua vida moral.  
Certa vez, quebrou o vidro da porta do Mas com um soco, para socorrer uma empregada vítima de um buldogue nervoso, que na escuridão do cômodo, julgara ser um gatuno surpreendido. Feriu-se na pressa e resolveu o assunto silenciando o cão. Foi essa a última ação heróica de sua vida. Socorrer uma criada devotada.

EM MEUS BRAÇOS DEUS BUSCA SUA ALMA

Filho da graça, ainda que com simplicidade , nosso príncipe foi um perfeito filho do dever. Não procurava o extraordinário. Sem esforço passava do humano ao divino. Deixava os heróis épicos cujos feitos traduzia do latim para o francês, pelo campo de tênis, retirando-se em sua casa, para o oratório familiar para rezar, ali, o terço. Com pequenos atos cotidianos preparava a eternidade.
Com ele estava a graça do nascimento, do nascimento batismal.
Ecutava e aprendia a doutrina cristã, reservando para ela o melhor da sua aplicação.
A Época da Primeira Comunhão chegou. Guiado por um excelente religioso carmelita, amigo da família (Fr. Constantino OCD), entrou nos exercícios preparatórios sem constrangimento, em companhia de seu irmão e sua prima Isabel. A 30 de outubro de 1918, sem choque (o natural seria morrermos ao comungar), o contato teve lugar entre o Senhor que se dava e sua pequena alma, onde a graça batismal permaneceria intacta. Simplesmente era um Santo Hábito que começava, soberano dos outros, naturalmente.
Sua piedade nada tinha de sentimental. Para ele era um dever ao qual obedecia sério e pontual. Gostava de acolitar a Missa. Oferecia-se espontaneamente, quer na capela de casa, quer na Igreja Paroquial. É uma honra! (Negada aos anjos diga-se) Notava-se sua posição, correta e firme, atenta ao Sacrifício ao qual se unia pela Comunhão.
D. Luis Gastão, não era um devoto de longas rezas. Não sabia nem prolongar, nem encurtar suas orações, principalmente nas ações de graça e visitas ao Santíssimo Sacramento. Ele sempre tão ativo, ficava calmo e recolhido, até o momento que julgava suficiente a homenagem dada Àquele diante de Quem viera se ajoelhar.
"Quando ele entrava na capela, só aquele Sinal da Cruz, nos impelia ao recolhimento." - Observa, sua avó materna, a Condessa de Caserta.
Numa igreja fria das montanhas de Auvernia, em Aubrac, Sul da França, ele recusou, obstinadamente um genuflexório. Cansado, manteve-se firme, de braços cruzados, ajoelhado sobre as lajes já gastas pelo uso de gerações de devotos. Sem pena de si mesmo, curvava sua alta estatura, e articulava distintamente as respostas da Santa Missa.
É verdade que sua piedade não era sentimental, mas, de modo algum excluía a afetividade. Amava com ternura a Mãe de Deus (Não é isso sinal de predestinação?). Certa vez, falava-se de devoções preferidas, e ele não se conteve: "Para mim, não há como a Virgem Maria." Depois, voltou-se, confuso pela demonstração contrária aos seus hábitos de reserva.
Todos os anos, com os seus, empreendia uma peregrinação a Lourdes. A última foi em Janeiro de 1931.
No terrível frio dos Pirineus, enquanto sua mãe rezava na gruta, ele foi mergulhar na piscina gelada. Durante três dias repetiu o sacrifício. Pedia sua cura. Para quê? Para gozar a vida? E quando houve naquele rapaz algum impulso nessa direção. (...)
Fosse qual fosse a sua atitude diante do chamado do Senhor, o "Mestre das Almas" voltara os olhos para ele e o amara. Não esperou por uma iniciativa de sua parte. Foi uma rude intervenção. O Grande Mestre dos Sacrifícios cortou o fio daquela natureza ágil, condenando-a à imobilidade da inatividade. A luta contra o Anjo, na noite.
Um dia, assistia a uma partida de futebol como simples espectador, contava os pontos, anotava os erros, esquecia o cansaço. " Sinto um formigamento nos pés. Quando tornarei a usar minhas pernas de verdade?" (Podia andar, com dificuldade)
Um dia, levantou-se e saiu febrilmente a correr pelo jardim. Entrou em casa, onde encontraram-no ofegante. "Que tem você?" - "Nada. Estou enferrujando-me de não fazer nada, preciso me desenferrujar." Fizeram lembrar-se então da preocupação de sua mãe pela sua demora em se recolher.
Sua mãe, como ele a amava! A eventualidade da grande separação surgia.
D. Maria Pia tinha requisitado uma enfermeira para partilhar os cuidados. Ele só aceitou quando lhe disseram que ela seria uma religiosa, Irmã Lúcia do Bon Secours de Troys, habituada a tais circunstâncias por quem ele tinha especial simpatia.
Os serviços dos médicos não eram - via-se bem - recebidos com alegria sincera. O médico significava a injunção de ficar tranqüilo, o prazo importo à impaciência. Mas, recíproca era a simpatia entre ambos. E nos últimos dias de vida, o Príncipe Imperial encarregou a mãe de agradecer tudo ao bom doutor.
O trabalho de desprendimento seguia lentamente. Certa vez suspirou: "Afinal, se Deus quer que eu esteja doente."
A vontade de Deus era sua preocupação: "Que Deus queira que eu viva ou morra, para mim é a mesma coisa. Afinal, todos nós não vamos morrer um dia? Mas, se eu morrer agora, não é preciso que ninguém sofra."
- "Sinceramente, não se importa?" - insistia a pobre mãe.
- "Não. Tanto faz."
Que me permitam uma pausa. Não se sente aqui um contato com o Divino? A indiferença, naquele jovem não era desânimo nem linfatismo: era a vitória de uma experiência pela qual percebera, logo, a insuficiência do mundo em encher seu coração.(...)Em seu olhar claro, lia-se o apelo divino à alma e a preferência absoluta por seu Deus.
(...)
Um dia lhe contaram os excessos de um santo. Ele concordou: - "Ele estava certo, pois, por amor a Deus, nada é demasiado." Nunca largava o Rosário. Quando o surpreendia a recitá-lo, guardava, entre os dedos, a conta da dezena começada, e não escondia o incômodo de ser interrompido. Depois voltava ao recolhimento.
Um dia quando se impacientava com a doença, a irmã enfermeira lhe aconselhou que invocasse pelo Rosário as Almas do Purgatório. Ele aquietou-se imediatamente, confessando, humildemente, seu mau-caráter.
Sua mãe lhe sugeriu ''oferecer tudo por seus pecados."
- "E você acha que eu já não o fiz?"No dia de sua morte, a mãe o surpreendeu quando ele tinha, entre as mãos, uma imagem de Nsa. Sra. do Parto. Aos pés da imagem, a qual a Princesa Imperial Viúva lhe havia trazido de sua peregrinação a Neuilly, encontravam-se gravadas estas palavras: Em meus braços, Deus busca tua alma, vem, meu filho.  
Algumas horas mais tarde o jovem atenderia ao chamado.
Era uma terça-feira, chegava ao fim a festa da Natividade de Nossa Senhora. Ele tinha vinte anos.
Nada fazia prever um fim tão rápido. No entanto, a Princesa Imperial Vivúva, como mãe cristã previdente havia lhe pensado administrar os últimos sacramentos. Tranqüilizada pelo médico, ela recuperou a esperança., bem como o próprio amigo padre a quem, D. Luís Gastão quisera ter por companheiro durante o verão. Aliás, ele se confessara e comungara na primeira sexta-feira do mês.
Tranqüilizado, o padre, que já tinha adiado uma viagem, voltou atrás, despediu-se do Príncipe Imperial, mas, a caminho da estação, D. Pedro Henrique que amavelmente, o levava de carro, objetou: "O senhor não deveria partir, sua presença pode ser útil."
De volta, anunciaram ao doente que o padre tinha perdido o trem. O Príncipe Imperial sorriu delicadamente: - "O pobre padre deve estar bem aborrecido."
O dia passou sem alarmes, mas a Princesa Imperial Viúva não escondia a inquietação.
Não era ainda meia-noite quando o rapaz se sentiu oprimido: "Irmã, - pediu ele - a água de Lourdes..." Foram suas últimas palavras, um ato de Fé em sua Mãe do Céu, que lhe recusara a vida na terra...
A Princesa Dona Maria Pia correu a acordar o padre que desceu às pressas, à cabeceira do jovem. Esse, em plena consciência, fixou-lhe um olhar infinitamente triste e suplicante, que o padre compreendeu.
Depois de lhe dizer as palavras sacramentais, lhe disse: - "Meu filho, esteja em paz! Com o Bom Jesus. Ele lhe abre os braços. Vai a Ele com a graça e a inocência do batismo."
Alguns segundos, e sua cabeça tombou em eterno repouso.
O Cardeal Verdier, informado, dignou-se, com sua bondade, vir consolar sua mãe sofredora e orar pelo defunto. Fez-se intérprete de todos ao exclamar:
"Nada está triste neste quarto, tudo recende à pureza, D. Luís Gastão está no Céu, eu o sinto, eu o invoco e ainda o invocarei... Amanhã rezarei a Missa com o cálice que Pio XI me deu para a Missa de minha Sagração Episcopal, dizendo-me: 'Ninguém além de nós celebrou com este cálice." Ali depositarei a alma de D. Luís Gastão e oferecerei a Deus."
A família conduziu os restos mortais de D. Luís Gastão a Dreux, para a Capela de São Luís, onde os descendentes de Luís Felipe tem direito à túmulo. Por ordem da Mãe, Dona Maria Pia, nada de aparência mundana, apenas uma camisa de noite, como se estivesse dormindo, o cobriria. O Caixão coberto com a Bandeira Imperial do Brasil foi posto sobre um catafalco, recoberto com uma toalha branca onde estava bordada uma coroa real com um escudo blau com Flores-de-lis de França e o alambel prata dos Orleàns. Terminada a Missa de Réquiem o esquife foi depositado em um túmulo de pedra ao lado do seu Pai, e dos avós o Conde e a Condessa d'Eu. Aos pés nada mais que uma cruz de flores brancas oferecida pelos criados, com consentimento da Princesa Imperial Viúva.
"Que belo dia! - nota um príncipe, familiar distante, Padre Jorge de Saxe - Sim! Apesar de tudo, que belo dia, mas a luz que ele vê lá em cima é bem mais bela."
Palavras de esperança cristã vindas de uma família que havia dado á Igreja duas vocações sacerdotais: a do irmão, Maximiliano Odo da Saxônia, a própria, tendo como ancestral comum com D. Luís Gastão a D. Pedro I.

NÃO QUERO SER UM HOMEM INÚTIL

Apesar de toda a piedade e consciência madura, é estranho notar a ausência do tema vocação na história, nota Monsenhor René Delair, hora, Dom Luís Gastão era um homem do dever, e como seu dever primordial era na Casa Imperial do Brasil, ele devia esperar o matrimônio de Dom Pedro Henrique seu irmão, para responder o chamado divino. O que Deus quer é o dever, sou um homem do dever. Repetia sempre a mim.
Terminamos essa biografia com uma frase de D. Luís transcrita por Monsenhor Delair: ''NÃO GOSTO QUE SE OCUPEM DE MIM"
Com que sinceridade deveríamos dizê-la e segui-la, disto poderíamos fazer o resumo da vida de D. Luís e o cronograma da nossa: ''NÃO GOSTO QUE SE OCUPEM DE MIM"

sábado, 28 de dezembro de 2013

CAÇADORES DE UNICÓRNIO - V

IV) NENHUMA FORMA DE GOVERNO PODE SER CONSIDERADA INTRINSECAMENTE LIBERAL


"É mais breve e rápido escrever heresias que responder a elas." Com esta frase de S. Tomas More principiávamos há quase dois anos esta série, que pretende ser um ensaio elucidativo sobre as questões políticas, históricas, e principalmente religiosas, que sempre se levantam de tempos em tempos entre católicos monarquistas, e católicos ainda politicamente vacilantes quanto à forma de governo.
Prometemos nesta quarta parte demonstrar que “Nenhum tipo de monarquia pode ser considerado intrinsecamente liberal”, contudo, entre os estudos e pesquisas sobre o tema, pudemos perceber que o liberalismo está imbuído e permeia a Revolução, e definirá as diretrizes da Contrarrevolução. Assim, mudamos para dizer que “nenhuma forma de governo pode ser considerada intrinsecamente revolucionária”, por ser mais abrangente. Então passemos às premissas de nosso ensaio, que terá papel fundamental na sequência da série.

Primeiramente o que é um Liberal e o que é Liberalismo.

O termo liberal estava ligado à ideia de liberalidade, bondade, magnanimidade, e se contrapunha à avareza, como ainda hoje ocorre nos catecismos que seguem Trento.
Com a Revolução de 1789, baseada, excessivo dizer, no Iluminismo, o termo ‘revolução’ tomou novo sentido, e assim também o termo ‘liberal’ como vários outros.
Nas Revoluções de 1817 ainda não eram os revolucionários identificados como ‘liberais’. E até 1831 não ocorre em português o termo liberal com esse sentido revolucionário. Os revolucionários eram identificados como Iluminados, pedreiros-livres, anárquicos, ou democratas.
Com a Guerra de Sucessão em Portugal os partidos tomarão os termos ‘liberais’ e ‘tradicional’ como contraposições ideológicas.
Será somente em 1860 com o Syllabus que terá a alcunha ‘liberal’ tomado o sentido de revolucionário.
Para o Liberal “a sociedade, como a História, (...), não está nunca constituída, mas constituindo-se. Nunca vivemos num presente, mas sempre num gerúndio[1]”.
Há dois tipos de liberalismo, o liberalismo radical, democrata, revolucionário, essencialmente republicano. O liberalismo de Robespierre e dos jacobinos. Hoje em dia é o liberalismo das esquerdas.
E há o liberalismo moderado, quase aristocrático, com profundas aparências católicas, mas que rejeita a contrarrevolução, o tradicionalismo, identificando este com o absolutismo e o ‘direito divino dos reis’, era o liberalismo dos girondinos, é o liberalismo dos conservadores[2], da assim chamada ‘direita’, ligada estreitamento ao liberalismo econômico.
O conservador poderá até aceitar a monarquia, pois “para o liberalismo moderado o Rei é apenas um elemento do Estado com uma função determinada e relevante[3]”.
Para José Honório Rodrigues “o que caracterizou o espírito conservador foi sempre a consciência clara e lúcida de ser a classe dominante[4].” Mas distamos do pensamento deste historiador, visto que, influenciado por Hegel, ele identifica o conservadorismo com a burguesia, o que não se verifica sempre. Há conservadores de classes sociais diversas. Eis porque ele é mais feliz na assertiva posterior, da qual descartamos o interesse puramente econômico. Segundo ele o conservador idealiza a
“continuidade entre o passado e o presente. Por isso ele era e é sempre contra as revoluções, porque elas rompem essa continuidade, e trazem grandes riscos à sua posição econômica, social e às vezes política. Mas ele não é um contrarrevolucionário, porque este quer a contrarrevolução. O que ele queria e quer é a manutenção das estruturas essenciais, embora com algumas inovações. Ele não queria que se destruísse o estabelecido tradicionalmente, embora também não fosse um tradicionalista porque não estaria voltado para o passado; vivia o presente. Era empírico, pragmático, não aceitando soluções abstratas e teóricas. O essencial era conservar e só mudar o que fosse indispensável, e assim mesmo de forma gradual[5]”.

No entanto, podemos observar, que apesar de não ser contrarrevolucionário, nem revolucionário, o conservador poderá auxiliar um lado ou outro, conforme veja vantagens ou se identifique com o ideal proposto quer pelo revolucionário liberal, quer pelo contrarrevolucionário tradicionalista. Assim, a ação de conservadores poderá reverter, ou estancar os efeitos de uma revolução, pelas concessões que os conservadores fazem aos contrarrevolucionários, tanto quanto podem promover a própria revolução, como fizeram os conservadores que deram início ao constitucionalismo em Portugal (os vintistas), cedendo às reivindicações dos revolucionários. Por isso lhes cabe a classificação de liberais moderados.
Mareschall dizia que os liberais do Brasil não eram democratas[6], então tais liberais são o que se chamam de conservadores e dentre eles o mais eminente foi José Bonifácio de Andrada e Silva.

O conservadorismo e a Independência

José Bonifácio, estava imbuído das ideias de Rousseau. Quis que D. Pedro assumisse o título de Imperador antes de reunida a Assembleia Constituinte para que este não ficasse dependente desta, visto que não havia nenhuma autoridade superior emanando da vontade do povo, o que faria a Assembleia carecer de representatividade.
Para os conservadores da linha de Bonifácio, então, “o Imperador faria parte essencial da representação nacional e haveria um verdadeiro pacto entre o povo e o soberano”[7]. Tal pensamento pode até ser ajustado dentro do tomismo, como muitos o tentaram fazer em Portugal durante a Revolução Pombalina, e no Brasil com a Inconfidência Mineira, mas não falaremos disto ainda.
Foi Bonifácio que usando de suas atribuições como ministro de D. Pedro I impediu a vinda dos Carbonários ao Brasil e alimentou a maçonaria brasileira de um sentimento conservador (tal qual definido acima) que levou D. Pedro mesmo a fechar todas as Lojas Maçônicas do Brasil e fundar com Bonifácio o “Apsotolado”, cujos fins eram consolidar o Império e a independência e barrar todas as atividades do Grande Oriente.
José Honório Rodrigues percebe bem que a doutrina política de José Bonifácio é mais do que uma adaptação rousseauista à realidade brasileira, é uma aplicação dos conceitos de Locke e Burke. É uma tentativa de organizar a política com responsabilidades limitadas e separação de poderes, fazendo da política o meio pelo qual o liberalismo alcança as reformas na sociedade: é liberdade e ordem.

Dom Pedro I e a Contrarrevolução

Não podemos também deixar de dizer que houve contrarrevolucionários no nosso processo de Independência. Houve padres e leigos que eram monarquistas ferrenhos, que apregoavam uma emancipação do nosso país para que este se tornasse a capital do Império Lusitano. Outros eram absolutistas que queriam transformar nosso país num reino cristão.
Enquanto um frade carmelita, Frei Caneca, criava um foco revolucionário republicano no nordeste, cresciam, em lugares deixados ao rodapé da História da Independência, absolutistas que aceitavam a independência e aconselhavam o Imperador a frear a Revolução.
Assim Dom Pedro I o fez. Fechou a Assembleia Constituinte com força de armas, exilou José Bonifácio, e aconselhado pelo outro Andrada, aderiu à teoria do Poder Moderador, única capaz de subsistir naquele foco de tensões revolucionárias e contrarrevolucionárias.
Se lhe era legítimo tornar o país independente? A isso Dom João VI nos respondeu porque lhe disse: “Se hei de perder o Brasil, que seja para ti que me há de respeitar. Toma a coroa antes que lha tomem algum destes aventureiros.” Era a ordem paterna que seguia, e tão logo tornou o país independente o consagra a Nossa Senhora Aparecida.
Permaneceram e usaram-se estruturas liberais? Sim. Mas a representação partidária, o Conselho de Estado, e o Poder Moderador seriam armas manejáveis por católicos no futuro, como de fato muitas vezes foram. Teve o Imperador que frear muito os liberais até o não poder mais contê-los em 1831, quando as circunstâncias o forçaram a ser ilegítimo rei de Portugal e a tentar fazer lá o que havia feito aqui. Mas isso já é outra história, que envolve os monarquistas portugueses, e na qual não vemos por que nos metermos.



[1] HONÓRIO RODRIGUES, José, “Independência, Revolução e Contra-Revolução, vol. 1: Evolução Política”, Livraria Francisco Alves Editora, Rio de Janeiro, 1975, Pág. 32
[2] E neo-conservadores
[3] HONÓRIO RODRIGUES, José, “Independência, Revolução e Contra-Revolução, vol. 1: Evolução Política”, Livraria Francisco Alves Editora, Rio de Janeiro, 1975, Pág. 32
[4] HONÓRIO RODRIGUES, José, “Independência, Revolução e Contra-Revolução, vol. 1: Evolução Política”, Livraria Francisco Alves Editora, Rio de Janeiro, 1975, Pág. 40
[5] HONÓRIO RODRIGUES, José, “Independência, Revolução e Contra-Revolução, vol. 1: Evolução Política”, Livraria Francisco Alves Editora, Rio de Janeiro, 1975, Pág. 41
[6] HONÓRIO RODRIGUES, José, “Independência, Revolução e Contra-Revolução, vol. 1: Evolução Política”, Livraria Francisco Alves Editora, Rio de Janeiro, 1975, Pág. 11
[7] HONÓRIO RODRIGUES, José, “Independência, Revolução e Contra-Revolução, vol. 1: Evolução Política”, Livraria Francisco Alves Editora, Rio de Janeiro, 1975, Pág. 2.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

UM JOVEM PRÍNCIPE CRISTÃO - PARTE II

Dom Pedro Henrique, Dom Luis, Dona Maria Pia e Dona Pia Maria
TESTEMUNHO DO SANGUE

A vida do jovem transcorria num meio relativamente restrito á família. Poucas viagens. A primeira ao Brasil, por ocasião do Centenário da Independência, em 1922. Viagem marcada pela morte do avô a bordo do 'Massilia', quando o navio entrava em águas brasileiras.
Outras, com seu tio, o infante Carlos de Bourbon-Sicília, à Argélia e à Tunísia. Delas fez um relatório de notas concretas, com fatos, isento de impressões pessoais.
Brincava com seus irmãos e primos, preferia os jogos de estratégia e inteligência, nos quais exigia absoluto silêncio. Mas, explodia com as outras crianças num ruidoso esconde-esconde que ia do sótão ao porão, que parecia um tufão a varrer as escadas, estremecendo os lustres do teto. Perseguiam-se vertiginosamente, até pelos telhados, de tal forma que os vizinhos vinham preocupados avisar à família imperial que 'as crianças acabariam se matando.'
Também fazia um curioso trenó de madeira, retirada da mesa, que descia a montanha vertiginosa da escadaria do salão de festas.
Gostava de futebol, passeios de automóvel pela França, andar de bicicleta por Provença, nadar e praticar regatas na costa de Cannes.
Sua rotina diária: levantava-se rapidamente, três passos, um beijo no crucifixo. pontualidade na hora da aula, com as lições estudadas. Repetia com firmeza os textos de Virgílio, ou de Corneille, ou então um texto litúrgico, ao qual reservava especial aplicação.
Digno e polido para com os empregados, nunca abusava de seus serviços. "Sempre servia antes de mandar." - Lembrava um deles.
Desde criança, sempre preocupado em não incomodar os outros, escondia seus sofrimentos. Seguia o lema de seu pai: "Nunca se queixar de nada."
Uma camareira comentava sobre ele: Aquele menino não tinha amor algum por si mesmo. Para ele, o próprio corpo não existia."
Nunca lhe agradou ver espetáculos imodestos, nunca sorrira maliciosamente. Certa vez, folheando um revista de ilustrações ousadas, jogou-a longe e disse: "Que estupidez, francamente." 
Não era, contudo, um insensível à reações exteriores, amava, mas com pureza.
Certa feita, no Castelo d'Eu, ele brincava com uma menina brasileira. Parou, por um momento, a observá-la e disse com um amável sorriso: "Que bonitos olhos negros você tem." Outra vez, no Brasil, com outra menina, passeando no jardim, ela parou diante de uma roseira, e ele veio com um galanteio: "Nenhuma delas é tão bonita quanto você, Senhorita!"
Coitado daquele que viesse a recordar esses episódios diante do herói, receberia uma resposta bem dada e desconcertante.
D. Luís, com sua simplicidade e simpatia, conquistou o coração dos brasileiros, ainda saudosos dos tempos de D. Pedro II.
Era patriota, e sentia orgulho da raça brasileira. De volta à França, seu patriotismo não desgostava os fiéis da Casa de França. Recebera os germens de amor à pátria brasileira no exílio, por parte da Imperatriz de Direito, e por parte do conde d'Eu que contava ardentemente as vitórias de Peribebuí e Campo Grande durante a guerra contra o Paraguai.
No curso de educação, os tropeços eram inevitáveis, mas ele reagia sempre:um maus caráter, eu sei, mas vou me corrigir..."
Certa vez, o autor deste livro o repreendeu por algum excesso de vivacidade. pouco depois ele batia sem sua porta, fortemente, chorando: "Quero uma punição, eu mereço."
Sua consciência delicada, jamais chegava aos escrúpulos. Sempre pronto a abnegar-se em favor dos outros, incluso do Fox Terrier, que havia corrigido com os dentes a beleza tão odiada por ele de seu nariz bourbônico. Sangrando, pediu à mãe que o poupasse, pois o incidente era culpa sua. Saiu, contente desta história, já que nada lhe desagradava mais que ser bonito.
Demonstrava uma grande independência de espírito. Certa feita, num serão familiar, se lia e estudava as narrativas dos trois glorieuses e do advento ao trono do ramo mais novo dos Bourbons. Ele, timidamente, concentrado e pensativo disse: "Talvez, Luís Felipe fosse... um pouco usurpador."
Os Orleans e Bourbons haviam lhe legado a aptidão e o gosto pela ação. Mas sua alma se extasiava em demasiada paz e tranqüilidade, contemplação e gosto por admirar a beleza das catedrais européias. A de Chartes, é a mais bela de todas."
A graça da Fé, transportava sua alma para junto do coro de gerações dos fiéis, invisíveis, que povoam aquelas naves, onde (...)ele não pensava, mas tinha, no entanto, colóquios com a Virgem. Sua alma se abria numa contemplação sem palavras, numa contemplação de pura Fé. Da Belle Verrière. Maria se inclinava para você num convite sorridente: "Isto aqui é belo, mas o Céu, onde reino com meu Filho, é mais belo ainda, vem, não demores! A terra não é para os puros e sinceros como tu."
Notre Dame du Port foi a última que admirou.
Amava o Brasil e a França, sempre dizia: "Depois do Brasil, nenhuma pátria é mais bela que a França!"

O MAS SAINT LOUIS

Como ele amava o Mas Saint Louis. Chamava-o Paraíso de Mandelieu!
A moradia não era vasta, mas aconchegante e suficiente para a família. Parva sed apta, construída em estilo provençal.
Ao pé do Esterel, entre pinheiros e ciprestes, construído de modo que se podia ver das janelas os jardins e a baía, escondendo-se somente a enseada de Théole pelo Monte Saint Pierre.
A leste, os Alpes, cujas neves até abril se confundem com as nuvens.
Dom Luís gostava de admirar os barcos que visitavam a baía desde sua janela do quarto do Mas Saint Louis. Quando não, e isto mais que admirar, dar uma volta no Crévard, Vvltando com o barco carregado de linguados, pescadas, ou rodovalhos. E se este virava, nadava de dar inveja aos habitantes do mar. Às vezes reservava as lanchas de Luis Fanciuli, e quando não ia com a família para as sombras dos pinheiros comer bouillabaisse(sopa de frutos do mar).
Do quarto do ângulo esquerdo do primeiro andar, se podia ver sua silhueta acolhedora sorrindo para este amigo, quando o visitava no Mas.
Porém, à memória do visitante veio uma queixa do rapaz a sua mãe quando o médico lhe aconselhou a ir para as montanhas respirar ar fresco: Mamãe, fiquemos em Mandelieu! Se você me levar, não o verei mais." Ele não gostava de dramatizar nada, e disse isso com extrema sinceridade.
Fisicamente, era bem saudável, seu aperto de mão esmagava as falanges de quem o cumprimentava, os joelhos dominava a montaria, e os tornozelos se moviam para um potente chute de futebol (afinal, era príncipe do Brasil ou não?). Mas o que dizer de reações violentas, bater de portas ferir a cabeça contra a parede do quarto? Era o primeiro tempo ao qual sucedia, imediatamente um segundo, o do controle vitorioso, sorridente e conciliador. A tempestade seguida de bonança.
Desapegado de todas coisas que comumente agradam à juventude. Guardava em seu bolso, a esmola do capelão, e uma cama de vento lhe bastava se pendesse desde a cabeceira um crucifixo. Quiseram dar a seu quarto uma melhor decoração: "Assim como está basta!" - Lhes respondeu. Sua mãe quis trocar seu pequeno Peugeot 201 por um veículo mais possante: "O meu está bom!"
Com os parentes, deferência afetuosa, disposição espontânea, e sincera em prestar serviços e ceder o melhor lugar.
Não podemos deixar de citar um episódio tal qual contaram a Monsenhor René Delair.
Quando ainda menino, viajava com a família de trem e uma senhora proferiu um elogio: "Que menino bonito!"
Ele socou o nariz com a testa crispada de raiva e repetia: "É chato ser bonito, isso faz você me olhar."

BEM NA MODA

Desde o levantar-se, quando beijava seu crucifixo de madeira. (Confesso que passei a fazer isso quando li o livro), Até se deitar, quando repetia o gesto, piedoso, D. Luís Gastão mostrava-se um perfeito filho do dever.
Que adolescente austero! - dirão. Sim, era a disciplina de vida que demonstrava profundas convicções cristãs. Mas, D. Luís Gastão nunca foi um santo triste e introvertido (Dizíamos no seminário de La Reja, que um santo triste é um triste santo). Encontrava o objetivo principal de seu músculos na atividade física. Cavaleiro consumado, seu porte sobre o animal era de correção acadêmica. "Eis o duque de Aumale." - exclamava o professor que conhecera seu tio-bisavô.
A refeição em família ainda não tinha acabado e ele já vivia com o irmão, a partida de futebol planejada.
Estava perfeitamente a par dos acontecimentos esportivos, dos quais nenhuma minúcia escapava. Fazia cronogramas com letra serrada e regular, dum campeonato esportivo, bem na moda. Era um ansioso torcedor da equipe francesa. (Nota de rodapé: eram raras as equipes brasileiras na época).
Adversário temível, mas cortês, ele logo se colocou no primeiro plano nos campeonatos de Cannes. Até hoje os amadores lembram-se dele (...) nos campos de tênis de Beau Site e de Hespérides. Auto, moto, regatas. (...) Empreendia audácias nas águas caprichosas do lago de Lucerna na Suíça, com seus primos arquiduques da Áustria. chegou a completar em quatro horas, a distância de Lucerna a Fuellen (36 KM), a remo com seus primos supracitados. E como ele estava orgulhoso disso.
Como todos os enérgicos ele não amava a vida por ela em si, mas por seu emprego interessante e generoso.Sua timidez natural, dava lugar, dia a dia, e cada vez mais, àquela alegria que se inspirava em todas as circunstâncias.
  

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

UM JOVEM PRÍNCIPE CRISTÃO - PARTE I

UM JOVEM PRÍNCIPE CRISTÃO, DOM LUÍS GASTÃO DO BRASIL
(1911-1930)
Coletânea de textos do livro de Monsenhor René Delair
 

Da direita para esquerda: Dona Pia Maria, Dom Pedro Henrique e nosso biografado, D. Luis Gastão do Brasil

Apresentação

Tradução ainda inédita no Brasil, principia por uma carta de reivindicação de S.A.I. Dona Maria Pia de Bourboun-Sicília reclamando do modo de pintar seu filho usado pelo biógrafo. Diz ela ao Professor Sebastião Pagano, que falta ressaltar ''de maneira mais categórica a energia de caráter tão viril, de Luís Gastão, as suas idéias tão largas e a sua inteligência. Erro comum dos biógrafos que tentam ressaltar a santidade do biografado. Mas, digo eu, que a santidade é justamente o oposto da passividade efeminada com que sonha o homem moderno (cada vez menos homem e mais moderno), é a virilidade, VIRILITER AGITE, como diz o Deuteronômio (31,6). A santidade é a vivência corajosa das leis de Deus e a crença viril em sua existência e em sua revelação, capaz de levar homens ao meio do deserto, ao fundo das covas de leões, à grutas solitárias, a viver a pureza e a castidade, a impor a sua nobreza de espírito perante o inimigo covarde que te ameaça de morte com um fuzil. A santidade é viver tudo o que a civilização moderna quer deitar abaixo, "tudo quanto é belo, e nobre, e heróico neste mundo. Mas não duvido que os bons triunfem e que vejamos melhores dias, voltando as nações às antigas tradições que fizeram a sua grandeza e felicidade." (Carta de S.A.I. D. Maria Pia a Sebastião Pagano)
Embasado nisso, extraio do livro de Monsenhor René Delair, aquilo que cri mais relevante e ressaltador deste ideal de santidade verdadeira. 

Introdução
Sobre a relevância da obra:
"Se acharmos que a vida de um jovem, que transcorreu num estado de graça e de inocência, (...), não é magnificamente instrutiva e edificante para o crente, a quem interessa os contatos entre a alma e Deus, (...) - seria pretender que os esboços nos quais se exercitou e se adestrou um mestre da arte, um Rafael, por exemplo, nada ensinem aos que querem compreender a ascensão do gênio em direção ao mais perfeito."
E referindo-se a Dom Luís expressamente, diz Monsenhor Delair:
"Augusta e inspirada voz à qual respondem as dos que com ele conviveram, como um coro de tragédia antiga: 'Ele era bom demais para a terra, Deus teve pressa de tê-lo junto de si.'   
 
UM TÍPICO BOURBON

Nasceu em Cannes, 19 de fevereiro de 1911, na Vila Maria Teresa, modesto palácio de exílio dos Condes de Caserta, seus avós maternos.
Era o segundo filho do matrimônio de D. Luís, o Príncipe Perfeito, com D. Maria Pia. O primeiro filho, nascido à ano e meio, Dom Henrique, e dois anos mais tarde nasceria uma irmã aos dois príncipes, a princesa Pia Maria.
Inclinado sobre o berço, o pai correu para anunciar aos avós, fora do quarto, o nascimento de "um típico Bourbon..."
Os que contemplavam o principezinho adormecido e suas mantas de brasões imperiais e reais, jamais poderiam pensar, sem emoção, no número de raças ilustres que aquela frágil criaturinha representava.
Por sua avó paterna, a Condessa D'Eu, Princesa Isabel do Brasil, ele tinha por bisavó a Dom Pedro II, Imperador do Brasil, e descendia dos Reis de Portugal.
Por meio da Imperatriz Dona Leopoldina, mãe de Dom Pedro II, filha do Imperador Francisco II, descendia dos imperadores alemães.
E nas altas ascendências genealógicas, alcançava a descendência dos impérios austríacos, a descendência capetíngia dos Valois.
Pelos condes de Caserta, a descendência dos Reis de Nápoles. Por seus antepassados, as casas reais da Espanha, os Bourbon da França, São Luiz IX. E pelo Conde d'Eu, de Luiz XII, por segunda linha.
Entretanto, aquele menino que encontrava em cada página de história os feitos grandiosos de seus antepassados, jamais demonstraria auto-complacência e orgulho.
Nada o desgostava mais que uma alusão as seus nascimento: "Ora, não gosto que me falem disso".
O pequeno sempre preferia a reserva e a simplicidade, estas o devem ter ensinado a viver tão modestamente, consciente de que a verdadeira nobreza se impõe por si mesma.
A primeira infância se dividiu em estadas no Castelo d'Eu, Vila Maria Teresa, Cannes, e no Solar de Boulogne-sur-Seine, onde residia por intervalos e acolhia com dignidade tão afável a seus convivas a Imperatriz Exilada.
Dom Luis Gastão, onde quer que estivesse, se acomodava a tudo, se mostrava comunicativo, espontâneo e recebia da melhor maneira possível, os companheiros de brincadeira inesperados. Contudo, sempre preferia a solidão. Parecia não se prender a nada.
Tinha gosto pela observação até a abstração do sofrimento, certo dia com um caranguejo que lhe pinçava o dedo, considerou interessado: "Um morde, e o outro sangra".
Sempre foi resignado e nunca foi comodista preocupado consigo, dizia sempre: 'Isto Basta."
O pai, D. Luis, Príncipe Imperial do Brasil, cuidava pessoalmente da educação profana de seus filhos, com método próprio, deixando as lições de catecismo para a mãe.
Jamais admitia rigorismo extremos com as crianças, nem tampouco, que se infundisse nelas algum medo.  
 Por serem descendentes (bisnetos) de Luís Felipe, as leis da Terceira República os impedia de lutar pela França na I Guerra Guerra Mundial. Contudo, D. Luis, Príncipe Imperial não se valeu da escusa, ofereceu-se ao presidente Poincaré para lutar no exército francês. Recusada a oferta, ofereceu-se ao Príncipe da Bélgica, aliada da frança, que era seu parente por ascendência de Luís Felipe. S. M. também declinou o pedido. Uniu-se ao exército inglês de Jorge V, como capitão do Estado-Maior do general Douglas-Haig. E assim, pôde, no exército inglês, lutar pela França, sua pátria por sangue paterno e por adoção forçada.
O pequeno Dom Luís, era ainda muito pequeno, mas o Bon Papa, Conde d'Eu, não perdeu a oportunidade de deixar, na jovem mente, uma lembrança do heroísmo paterno. Mostrou ao menino o uniforme e a espada do pai: "Olhe, veja isso! Mais tarde, será preciso partir, também, para a guerra e lutar, como o papai, para defender a França."
D. Luís, o Príncipe Imperial, sucumbiu a um forte resfriado no fronte de batalha, e voltou para a casa, onde pôde morrer após a recepção dos sacramentos e a vista dos filhos, dando um último brado: "Eu Creio."

Este fim Cristão do pai, ficaria em sua memória para sempre. 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

GABRIEL GARCIA MORENO - IV - FINAL



CONSAGRAÇÃO DA REPÚBLICA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Quadro do Sagrado Coração, com o qual Dom José Inácio C. y Barba e Gabriel García Moreno fizeram a consagração do Equador
  
          Em 1.874 o Concílio Nacional de Quito lavrou um decreto que mandava consagrar o Equador ao Sagrado Coração de Jesus, por direta inspiração de García Moreno. Este, por sua vez, apresentou ao Congresso Nacional uma moção, pedindo que o Estado se unisse à Igreja nesse ato solene. Esta moção foi votada por unanimidade, tal era o espírito dos senadores e deputados durante o seu governo. Assim, marcou-se a data da Consagração Oficial da República ao Sagrado Coração de Jesus. Na festa do Sagrado Coração de Jesus, em julho de 1.874, a cerimônia teve lugar em todas as igrejas da República. Em Quito a cerimônia foi imponente. O arcebispo, Dom José Inácio Checa y Barba, grande amigo do presidente, pronunciou a fórmula de consagração diante do quadro do Sagrado Coração em nome da Igreja Católica e da Hierarquia Eclesiástica do Equador. Em seguida, Gabriel García Moreno, cercado de todas as autoridades do Governo Equatoriano a pronunciou em nome da Nação. Tal foi o entusiasmo produzido por esta grande manifestação de Fé dos equatorianos, que diversos membros do Congresso pensaram em erigir uma igreja ao Sagrado Coração, sendo, porém, este projeto adiado por razões econômicas até a presidência de Luís Cordero, em 1.884.
           Sem dúvida muitos viram naquele momento o cumprir da profecia de Nossa Senhora do Bom Sucesso à Irmã Mariana de Jesus em 1.594: “N o século XIX haverá um presidente verdadeiramente cristão, varão de caráter(...). Ele consagrará a República ao Divino Coração de meu Filho Santíssimo e esta consagração sustentará a Religião Católica nos anos posteriores, os quais serão aziagos para a Igreja.”
           A Consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus, somada à proibição das sociedades secretas, ocorrido com a nova constituição, valeu à García Moreno e ao seu amigo, o arcebispo de Quito, a condenação ao punhal traiçoeiro da Maçonaria, e consagração de ambos como apóstolos de um ideal. A própria profecia de Nossa Senhora do Bom Sucesso já rezava que este presidente verdadeiramente cristão que haveria no século XIX, seria alguém “(...) a quem Deus Nosso Senhor dará a palma do martírio na praça onde está este meu convento. (...)” Era evidente que a Virgem Santíssima falava de Gabriel García Moreno e que ele, juntamente com Dom José Inácio, seriam vítimas da Maçonaria.
  
TERCEIRA ELEIÇÃO COMO PRESIDENTE - MARTÍRIO
 
          Em 1.873 o Equador gozava de uma paz tão grande que Gabriel García Moreno, em um gesto de magnanimidade, concedeu anistia a todos os exilados políticos. Não é difícil de imaginar, que alguns, senão muitos destes, ao invés de ter gratidão para com o presidente, preferiram confabular contra ele juntamente da Maçonaria. Esse ódio só cresceu após a Consagração da Pátria ao Coração Divino e García Moreno foi jurado de morte pelas lojas maçônicas.
           Em maio de 1.875, Gabriel García Moreno foi eleito presidente da República pela terceira vez. Os exilados anistiados, juntaram-se formalmente com a Maçonaria e começaram a vomitar toda a sorte de ataque contra o presidente da nação. Os ataques foram mais ferozes do que nunca.
           Sabendo de todos os perigos que corria, García Moreno aceitou a eleição e, antes de assumir mais um mandato, pediu auxílio espiritual e conforto ao Vigário de Cristo, Pio IX: “Eu desejo receber vossa benção antes daquele dia, para que tenha a força e a luz de que tanto preciso para conseguir até o fim ser um fiel filho de Nosso Redentor e um leal, e obediente servo de Seu Infalível Vigário. Agora que as lojas maçônicas dos países vizinhos, instigadas pelos alemães, estão a vomitar contra mim toda a sorte de insultos atrozes e horríveis calúnias, agora que as lojas maçônicas estão secretamente a planejar o meu assassinato, eu tenho mais do que nunca a necessidade da proteção divina para que possa viver, e morrer em defesa de nossa Santa Religião e da amada República que uma vez mais sou chamado a governar.”
           Os amigos do presidente tentaram-no convencer a se precaver por causa das conspirações urdidas pelos inimigos da Igreja e da Pátria, mas ele simplesmente respondeu-lhes que só temia a Deus, e só a Deus.
           Em 2 agosto de 1.875, avisaram-lhe que Faustino Rayo estava entre os conjurados que maquinavam o seu assassinato. Gabriel García Moreno afirmou que Rayo estava acima de qualquer suspeita, porque era católico. O santo presidente ignorava que as más companhias podem fazer de um homem honrado e católico um malfeitor, e assassino e assim sucedeu. Faustino Rayo era colombiano naturalizado equatoriano, a quem García Moreno havia perdoado naquele incidente das tropas de Riobamba com o Comandante Cavero, fazendo dele chefe militar e ordenando-lhe muitos assuntos de suma importância. Tal era a confiança que García Moreno tinha em Rayo, que várias vezes faziam rondas noturnas durante o tempo em que García Moreno chefiava exércitos para lutar contra Urbina e Robles. No entanto, desprezando a amizade do presidente, Rayo aceitou uma pequena soma de dinheiro dada pela Maçonaria em troca da vida do amigo.
           No dia da Transfiguração, 6 de Agosto do ano de 1.875, Gabriel García Moreno assistiu à Santa Missa e comungou. Não sabia, não o podia saber, mas era a última vez que assistia à Santa Missa e comungava. Em breve, veria a Deus e não teria mais necessidade dos Sacramentos.

           Fora da Igreja, Faustino Rayo o esperava junto com outros conjurados. Mas a grande multidão que estava fora da Catedral impediu-os de perpetrar o plano diabólico.
           Uma hora da tarde, Gabriel García Moreno desceu do Palácio do Governo para visitar o Santíssimo Sacramento na catedral, conforme era o seu costume. Em breve, moraria na casa do Senhor a quem visitava todas as tardes. Fora da catedral, os conjurados ficaram impacientes pela demora. Faustino, então, entrou e chamou o presidente sob o pretexto de ter assuntos urgentes no palácio.
           Subindo as escadarias do palácio, recebeu de Rayo um golpe de facão no ombro. Gabriel García Moreno tentou alcançar o revólver para se defender, mas foi atingido na cabeça e logo chegaram os outros sicários que atiraram nele. Gravemente ferido, o presidente tentou-se dirigir para o lugar de onde partiam os tiros, mas Rayo o perseguiu e deu-lhe novo golpe no braço direito. Novos tiros dos conjurados e o santo presidente tombou desde o peristilo do palácio, a uma altura de cerca de quatro a cinco metros. Faustino Rayo, possuído de uma ferocidade sem par, desceu as escadas e desferiu os mais tremendos golpes no já moribundo presidente da Nação. 
           – Morre algoz da liberdade! – gritou o traidor.
           – DEUS NÃO MORRE! – exclamou o mártir num supremo esforço.
      Os soldados do palácio acorreram e Rayo foi morto ali mesmo, enquanto o presidente foi transportado à catedral, e foram perseguidos os conjurados.
   O pároco deu-lhe a Absolvição Sacramental e persuadiu-lhe de que perdoe os seus assassinos. “Já o fiz, padre!” Disse o grande estadist a e entregou a sua alma à Deus.
      O seu corpo havia recebido catorze golpes de facão e seis projéteis de revólver. O enterro assumiu proporções grandiosas. A mensagem que leria no Congresso naquele dia foi lida pelo Ministro do Interior, ouvida por todos com recolhimento.
  
 O MARTÍRIO DE DOM JOSÉ IGNÁCIO

           Quando celebrava os ofícios de Sexta-Feira Santa de 1.877, ao beber do Cálice de vinho para a purificação, Dom José Inácio Checa y Barba, Arcebispo de Quito, grande amigo de Gabriel García Moreno, exclamou: “Meus filhos, fui envenenado!” Recebeu a Absolvição Sacramental de um sacerdote e expirou. Haviam posto estricnina no seu cálice.

HOMENAGENS PÓSTUMAS
          
Corpo de García Moreno, embalsamado para funerais em traje de Chefe de Estado.
O Congresso aclamando-o como “regenerador da Pátria, mártir da civilização católica”, mandou gravar isto em seu túmulo e erigiu uma estátua dedicada à ele com a seguinte inscrição: ”À García Moreno, o mais nobre dos filhos do Equador, morto pela causa da Religião e da Pátria, a República reconhecida.” Também o Santo Padre Pio IX fez erigir no Colégio Pio-Latino uma estátua ao herói, onde se vê gravado: ”Ao guarda fiel da Religião, ao zeloso promotor dos estudos, ao dedicadíssimo servo da Santa Sé, ao justiceiro vingador do crime.” Leão XIII confirmou os elogios e foi presenteado pela viúva, Dona Mariana Del Alcazar y Ascasubi Moreno, com um quadro em tamanho natural de Gabriel García Moreno, segurando a constituição da Pátria.
          
Em idos de 1.980, ao exumarem o corpo do grande estadista, encontraram somente e só os seus ossos como era de esperar-se. Contudo, um volume esbranquiçado aparentemente de músculos chamou a atenção entre as costelas do cadáver. Era o coração do presidente. Ele que tanto amou o Sagrado Coração de Jesus! Ele que via o Coração vivo e palpitante na Hóstia Santa que recebia a cada Comunhão! Ele que visitava Jesus Sacramentado todas as tardes! Ele que conservou a chama da Fé acesa nos corações dos equatorianos, consagrando a República ao Sagrado Coração de Jesus, teve o seu próprio coração conservado incorrupto durante mais de um século.
           Ao ver este milagre, os responsáveis pela exumação, talvez por curiosidade, exumaram também o corpo do arcebispo de Quito e viram que estes dois corações que uniram-se para consagrar o Equador ao único Coração adorável também estavam unidos na incorrupção.
           Por certo tempo, exibiram o coração de Dom José Inácio na mesma capela onde está exposto o quadro do Sagrado Coração de que se serviram ele e o presidente santo para consagrar a pátria, mas, agora, até o coração do bispo está unido ao degredo de um vidro de formol, ao lado do coração de Garcia Moreno, proibidos de serem expostos, pela hierarquia eclesiástica.
           Também o Papa Paulo VI, quiçá por não suportar os ideais anti-liberais do santo, devolveu o quadro doado pela viúva à Leão XIII à igrejinha onde estão os restos mortais de Gabriel García Moreno.
           Ele foi cortado do mundo dos vivos pelo punhal traídor da Maçonaria, que muitos querem fazer-nos crer como associação idônea, mas o seu exemplo fica bem patente aos olhos da humanidade como que pedindo aos católicos que sigam a mesma senda de virtude, honra, saber, nobreza, patriotismo e Fé religiosa, do MAIOR ESTADISTA DO SÉCULO XIX!
 


DEUS NÃO MORRE


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Este resumo foi extraído do Livro "Garcia Moreno: Vítima da maçonaria", Francisco da Silva Prado, Coleção Religiosa.  nº 16, Federação das Congregações Marianas de São Paulo, 1933.