segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

CAÇADORES DE UNICÓRNIO - I


Introdução


Assim disse São Thomaz More certa vez: "É mais breve e rápido escrever heresias que responder a elas." Com isso justificamos e desculpamos nossa demora em responder a certas acusações de liberalismo na atual Casa de Orleans-Bragança. Não que nossos adversários sejam hereges no sentido estritamente teológico do conceito, mas suas orientações demonstram um profundo desconhecimento de matéria filosófica, política e até teológica.
De fato sob a desculpa de seguir uma espécie de tomismo puríssimo, baseado unicamente na repetição de artigos da “Summa” e propondo-se absterem-se do ato de filosofar, ou seja, de desenvolverem um pensamento com as premissas tomistas e deles inferirem silogisticamente uma conclusão, eles demonstram ter se apegado a um ente puramente ideal e cerebrino, uma abstração que idealizaram, como sendo o tomismo. Além e aquém dessa pretensão de serem filósofos melhores que todos os outros filósofos atuais, pretensão esta que Chesterton em sua biografia de Santo Tomás nega com uma humildade candente ao dizer: “Eu não sou como o padre D’Arcy, (...), um filósofo douto, treinado na técnica da ciência.” [1] Deles se pode dizer com Dom Odilão Moura, que tendo “um desejo de acatar a orientação vinda da Santa Sé, que determina seguir-se as pegadas do doutor angélico, satisfazem a própria consciência denominando-se ‘tomistas’. Contudo, ao se procurar saber mais a fundo o que pensam sobre o tomismo, ou o desconhecem totalmente porque jamais leram sequer, de modo atento, uma só obra de S.Tomas, ou o recebem num contexto kantiano ou teilhardista. Com raríssimas exceções, os que escrevem sobre S. Tomás ou o citam, é apenas para desfigurá-lo.”[2]  
Demonstram essa ignorância quando, juntam a pretensão de ser filósofos, à pretensão de ser cientistas políticos, não sabendo, no entanto, a sutil diferença entre a filosofia do direito, e a ciência do direito, a filosofia do poder, e a ciência política com a filosofia geral, acreditando que aquelas ciências, podem explicar unicamente se aplicando os conhecimentos que tenham nesta. Em seus textos eles demonstram estarem completamente alheios ao conhecimento jurídico, e da problemática jurídica atual, bem como alheios de qualquer conhecimento em ciência política e Teoria do Estado. Provavelmente nunca estudaram, ou ouviram falar de Gustav Radbruch, Tomás Antônio Gonzaga, Cristiano Tomasio, Miguel Reale ou Hans Kelsen, só para citar alguns autores que todo aquele que se propõe a estudar ciências sociais e políticas têm que ao menos conhecer de nome.
Ademais, ignorando o magistério perene da Igreja, em especial Pio VI, Leão XII, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Pio XI, e Pio XII, têm a pretensão descarada de poder definir com base em especulação teológica quem sejam os reais herdeiros do trono do Brasil, imaginando que teologia, filosofia e política sejam ciências que se estudem pelas mesmas regras.
Essa gente, além do ente imaginário e cerebrino que definem como filosofia tomista, possui ideias políticas que podemos dizer, novamente com Dom Odilão Moura [3], são fruto “da indistinção entre o essencial e o acidental” de onde decorre sua tese de que a “Idade Média é a única civilização adequada” ao ensinamento da Igreja, e que a monarquia medieval “é o único regime político cristão” que um católico pode defender (esquecendo todas as formas de governo medieval diferentes das monarquias francesa, germânica, lusitana, castelhana, lyonesa, aragonesa e galícia), e na falta delas uma república presidencialista governada por um santo como Garcia Moreno.
Que são as ideias políticas e filosóficas deles senão uma idealização, digna de Rousseau e o mito do bom selvagem, de uma sociedade puríssima, como puríssima pretendia ser a sociedade sem governos de Bakunin e outros revolucionários.
Desassociando-se da realidade esses pseudotradicionalistas criaram um ente mitológico, e apegados a ele buscam com fremente fúria e orgulho, quase que como crentes em algum dogma de fé solenemente pronunciado por um papa ou concílio, que todos tenham os mesmo ideais políticos surreais de modo que como seita, excluem de seus círculos de amizade os que não aceitam-no. Também desconsideram como se fossem revolucionários quaisquer grupos, quer filosóficos, ou políticos, que discordam de suas posturas. Na prática, quando se tratam desses grupos, eles sempre buscam o menor indício ou aparência daquilo que eles mesmos consideram errado, são homens e mulheres (mulheres interessadas em política?) que buscam o chifre na cabeça do cavalo para justificar a própria inércia e esperança sebastianista num governante milagroso, que faça tudo voltar a ser como eles acham que era. São caçadores de unicórnio em busca deste chifre na cabeça do cavalo, crentes no ente imaginário, perdendo o tempo de braços cruzados enquanto o mundo real se desfaz ao seu redor.
Para responder a todas as suas acusações contra a Casa de Orleans-Bragança, e para servir de elucidação a todos os Católicos Monarquistas, iniciamos então esta série, este estudo, que não pretende trazer a lume nada de novo, ou surpreendente, apenas esclarecer. Tampouco nós nos consideramos tomistas, já que esta pretensão é como diz o Padre Berto, “uma pretensão ridícula” [4], nos propomos apenas demonstrar que:
I) É necessário crer que a Monarquia é, conforme a doutrina da Igreja, o melhor dos regimes;
II) Mesmo corrompida e apesar da corrupção do monarca, preferível, conquanto mal menor;
III) Nunca um monarca perde por heresia ou qualquer pecado contra a fé o seu direito sucessório;
IV) Nenhum tipo de monarquia pode ser considerado intrinsecamente liberal;
V) Nossa independência e governo de Dom Pedro I, bem como seu sistema político (a Carta Constitucional de 1824) não foram ilegítimos ou prejudiciais à Igreja;
VI) Como a república além da ilegitimidade sempre foi prejudicial à nação e à Igreja;
VII) Dom Pedro II não era um inimigo da Igreja como o pintam muitos católicos;
VIII) Não são liberais os atuais herdeiros da Coroa Imperial;
IX) Tampouco sua proposta pode ser qualificada de liberal;
X) Como desde o exílio da Família Imperial, a Princesa Isabel e seus herdeiros conduziram o movimento com prudência e os motivos para esta prudência;
XI) Concluiremos explicando porque o movimento monárquico admite maçons, protestantes, hereges e o que seja, bem como até que ponto isso é admissível.



Luiz Cordeiro Mergulhão Silva
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[1] CHESTERTON, Gilbert Keith, “Santo Tomás de Aquino, Colección Austral nº 20, Editora Espasa-Calpe, Madrid, 1973, pág.. 137)
[2] DOM ODILÃO MOURA, “Ideias Católicas no Brasil”, Editora Convívio, 1978, pág.212.
[3] DOM ODILÃO MOURA, “Ideias Católicas no Brasil”, Editora Convívio, São Paulo, 1978, pág. 206.
[4] Pour La Sainte Eglise romaine, págs..79-80, in Dom TISSIER DE MALLARAIS, Monseñor Lefebvre, La biografía, Ediciones Rio Reconquistas, Buenos Aires, 2010, pág. 54.

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