quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

UM JOVEM PRÍNCIPE CRISTÃO - PARTE I

UM JOVEM PRÍNCIPE CRISTÃO, DOM LUÍS GASTÃO DO BRASIL
(1911-1930)
Coletânea de textos do livro de Monsenhor René Delair
 

Da direita para esquerda: Dona Pia Maria, Dom Pedro Henrique e nosso biografado, D. Luis Gastão do Brasil

Apresentação

Tradução ainda inédita no Brasil, principia por uma carta de reivindicação de S.A.I. Dona Maria Pia de Bourboun-Sicília reclamando do modo de pintar seu filho usado pelo biógrafo. Diz ela ao Professor Sebastião Pagano, que falta ressaltar ''de maneira mais categórica a energia de caráter tão viril, de Luís Gastão, as suas idéias tão largas e a sua inteligência. Erro comum dos biógrafos que tentam ressaltar a santidade do biografado. Mas, digo eu, que a santidade é justamente o oposto da passividade efeminada com que sonha o homem moderno (cada vez menos homem e mais moderno), é a virilidade, VIRILITER AGITE, como diz o Deuteronômio (31,6). A santidade é a vivência corajosa das leis de Deus e a crença viril em sua existência e em sua revelação, capaz de levar homens ao meio do deserto, ao fundo das covas de leões, à grutas solitárias, a viver a pureza e a castidade, a impor a sua nobreza de espírito perante o inimigo covarde que te ameaça de morte com um fuzil. A santidade é viver tudo o que a civilização moderna quer deitar abaixo, "tudo quanto é belo, e nobre, e heróico neste mundo. Mas não duvido que os bons triunfem e que vejamos melhores dias, voltando as nações às antigas tradições que fizeram a sua grandeza e felicidade." (Carta de S.A.I. D. Maria Pia a Sebastião Pagano)
Embasado nisso, extraio do livro de Monsenhor René Delair, aquilo que cri mais relevante e ressaltador deste ideal de santidade verdadeira. 

Introdução
Sobre a relevância da obra:
"Se acharmos que a vida de um jovem, que transcorreu num estado de graça e de inocência, (...), não é magnificamente instrutiva e edificante para o crente, a quem interessa os contatos entre a alma e Deus, (...) - seria pretender que os esboços nos quais se exercitou e se adestrou um mestre da arte, um Rafael, por exemplo, nada ensinem aos que querem compreender a ascensão do gênio em direção ao mais perfeito."
E referindo-se a Dom Luís expressamente, diz Monsenhor Delair:
"Augusta e inspirada voz à qual respondem as dos que com ele conviveram, como um coro de tragédia antiga: 'Ele era bom demais para a terra, Deus teve pressa de tê-lo junto de si.'   
 
UM TÍPICO BOURBON

Nasceu em Cannes, 19 de fevereiro de 1911, na Vila Maria Teresa, modesto palácio de exílio dos Condes de Caserta, seus avós maternos.
Era o segundo filho do matrimônio de D. Luís, o Príncipe Perfeito, com D. Maria Pia. O primeiro filho, nascido à ano e meio, Dom Henrique, e dois anos mais tarde nasceria uma irmã aos dois príncipes, a princesa Pia Maria.
Inclinado sobre o berço, o pai correu para anunciar aos avós, fora do quarto, o nascimento de "um típico Bourbon..."
Os que contemplavam o principezinho adormecido e suas mantas de brasões imperiais e reais, jamais poderiam pensar, sem emoção, no número de raças ilustres que aquela frágil criaturinha representava.
Por sua avó paterna, a Condessa D'Eu, Princesa Isabel do Brasil, ele tinha por bisavó a Dom Pedro II, Imperador do Brasil, e descendia dos Reis de Portugal.
Por meio da Imperatriz Dona Leopoldina, mãe de Dom Pedro II, filha do Imperador Francisco II, descendia dos imperadores alemães.
E nas altas ascendências genealógicas, alcançava a descendência dos impérios austríacos, a descendência capetíngia dos Valois.
Pelos condes de Caserta, a descendência dos Reis de Nápoles. Por seus antepassados, as casas reais da Espanha, os Bourbon da França, São Luiz IX. E pelo Conde d'Eu, de Luiz XII, por segunda linha.
Entretanto, aquele menino que encontrava em cada página de história os feitos grandiosos de seus antepassados, jamais demonstraria auto-complacência e orgulho.
Nada o desgostava mais que uma alusão as seus nascimento: "Ora, não gosto que me falem disso".
O pequeno sempre preferia a reserva e a simplicidade, estas o devem ter ensinado a viver tão modestamente, consciente de que a verdadeira nobreza se impõe por si mesma.
A primeira infância se dividiu em estadas no Castelo d'Eu, Vila Maria Teresa, Cannes, e no Solar de Boulogne-sur-Seine, onde residia por intervalos e acolhia com dignidade tão afável a seus convivas a Imperatriz Exilada.
Dom Luis Gastão, onde quer que estivesse, se acomodava a tudo, se mostrava comunicativo, espontâneo e recebia da melhor maneira possível, os companheiros de brincadeira inesperados. Contudo, sempre preferia a solidão. Parecia não se prender a nada.
Tinha gosto pela observação até a abstração do sofrimento, certo dia com um caranguejo que lhe pinçava o dedo, considerou interessado: "Um morde, e o outro sangra".
Sempre foi resignado e nunca foi comodista preocupado consigo, dizia sempre: 'Isto Basta."
O pai, D. Luis, Príncipe Imperial do Brasil, cuidava pessoalmente da educação profana de seus filhos, com método próprio, deixando as lições de catecismo para a mãe.
Jamais admitia rigorismo extremos com as crianças, nem tampouco, que se infundisse nelas algum medo.  
 Por serem descendentes (bisnetos) de Luís Felipe, as leis da Terceira República os impedia de lutar pela França na I Guerra Guerra Mundial. Contudo, D. Luis, Príncipe Imperial não se valeu da escusa, ofereceu-se ao presidente Poincaré para lutar no exército francês. Recusada a oferta, ofereceu-se ao Príncipe da Bélgica, aliada da frança, que era seu parente por ascendência de Luís Felipe. S. M. também declinou o pedido. Uniu-se ao exército inglês de Jorge V, como capitão do Estado-Maior do general Douglas-Haig. E assim, pôde, no exército inglês, lutar pela França, sua pátria por sangue paterno e por adoção forçada.
O pequeno Dom Luís, era ainda muito pequeno, mas o Bon Papa, Conde d'Eu, não perdeu a oportunidade de deixar, na jovem mente, uma lembrança do heroísmo paterno. Mostrou ao menino o uniforme e a espada do pai: "Olhe, veja isso! Mais tarde, será preciso partir, também, para a guerra e lutar, como o papai, para defender a França."
D. Luís, o Príncipe Imperial, sucumbiu a um forte resfriado no fronte de batalha, e voltou para a casa, onde pôde morrer após a recepção dos sacramentos e a vista dos filhos, dando um último brado: "Eu Creio."

Este fim Cristão do pai, ficaria em sua memória para sempre. 

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