sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

UM JOVEM PRÍNCIPE CRISTÃO - PARTE II

Dom Pedro Henrique, Dom Luis, Dona Maria Pia e Dona Pia Maria
TESTEMUNHO DO SANGUE

A vida do jovem transcorria num meio relativamente restrito á família. Poucas viagens. A primeira ao Brasil, por ocasião do Centenário da Independência, em 1922. Viagem marcada pela morte do avô a bordo do 'Massilia', quando o navio entrava em águas brasileiras.
Outras, com seu tio, o infante Carlos de Bourbon-Sicília, à Argélia e à Tunísia. Delas fez um relatório de notas concretas, com fatos, isento de impressões pessoais.
Brincava com seus irmãos e primos, preferia os jogos de estratégia e inteligência, nos quais exigia absoluto silêncio. Mas, explodia com as outras crianças num ruidoso esconde-esconde que ia do sótão ao porão, que parecia um tufão a varrer as escadas, estremecendo os lustres do teto. Perseguiam-se vertiginosamente, até pelos telhados, de tal forma que os vizinhos vinham preocupados avisar à família imperial que 'as crianças acabariam se matando.'
Também fazia um curioso trenó de madeira, retirada da mesa, que descia a montanha vertiginosa da escadaria do salão de festas.
Gostava de futebol, passeios de automóvel pela França, andar de bicicleta por Provença, nadar e praticar regatas na costa de Cannes.
Sua rotina diária: levantava-se rapidamente, três passos, um beijo no crucifixo. pontualidade na hora da aula, com as lições estudadas. Repetia com firmeza os textos de Virgílio, ou de Corneille, ou então um texto litúrgico, ao qual reservava especial aplicação.
Digno e polido para com os empregados, nunca abusava de seus serviços. "Sempre servia antes de mandar." - Lembrava um deles.
Desde criança, sempre preocupado em não incomodar os outros, escondia seus sofrimentos. Seguia o lema de seu pai: "Nunca se queixar de nada."
Uma camareira comentava sobre ele: Aquele menino não tinha amor algum por si mesmo. Para ele, o próprio corpo não existia."
Nunca lhe agradou ver espetáculos imodestos, nunca sorrira maliciosamente. Certa vez, folheando um revista de ilustrações ousadas, jogou-a longe e disse: "Que estupidez, francamente." 
Não era, contudo, um insensível à reações exteriores, amava, mas com pureza.
Certa feita, no Castelo d'Eu, ele brincava com uma menina brasileira. Parou, por um momento, a observá-la e disse com um amável sorriso: "Que bonitos olhos negros você tem." Outra vez, no Brasil, com outra menina, passeando no jardim, ela parou diante de uma roseira, e ele veio com um galanteio: "Nenhuma delas é tão bonita quanto você, Senhorita!"
Coitado daquele que viesse a recordar esses episódios diante do herói, receberia uma resposta bem dada e desconcertante.
D. Luís, com sua simplicidade e simpatia, conquistou o coração dos brasileiros, ainda saudosos dos tempos de D. Pedro II.
Era patriota, e sentia orgulho da raça brasileira. De volta à França, seu patriotismo não desgostava os fiéis da Casa de França. Recebera os germens de amor à pátria brasileira no exílio, por parte da Imperatriz de Direito, e por parte do conde d'Eu que contava ardentemente as vitórias de Peribebuí e Campo Grande durante a guerra contra o Paraguai.
No curso de educação, os tropeços eram inevitáveis, mas ele reagia sempre:um maus caráter, eu sei, mas vou me corrigir..."
Certa vez, o autor deste livro o repreendeu por algum excesso de vivacidade. pouco depois ele batia sem sua porta, fortemente, chorando: "Quero uma punição, eu mereço."
Sua consciência delicada, jamais chegava aos escrúpulos. Sempre pronto a abnegar-se em favor dos outros, incluso do Fox Terrier, que havia corrigido com os dentes a beleza tão odiada por ele de seu nariz bourbônico. Sangrando, pediu à mãe que o poupasse, pois o incidente era culpa sua. Saiu, contente desta história, já que nada lhe desagradava mais que ser bonito.
Demonstrava uma grande independência de espírito. Certa feita, num serão familiar, se lia e estudava as narrativas dos trois glorieuses e do advento ao trono do ramo mais novo dos Bourbons. Ele, timidamente, concentrado e pensativo disse: "Talvez, Luís Felipe fosse... um pouco usurpador."
Os Orleans e Bourbons haviam lhe legado a aptidão e o gosto pela ação. Mas sua alma se extasiava em demasiada paz e tranqüilidade, contemplação e gosto por admirar a beleza das catedrais européias. A de Chartes, é a mais bela de todas."
A graça da Fé, transportava sua alma para junto do coro de gerações dos fiéis, invisíveis, que povoam aquelas naves, onde (...)ele não pensava, mas tinha, no entanto, colóquios com a Virgem. Sua alma se abria numa contemplação sem palavras, numa contemplação de pura Fé. Da Belle Verrière. Maria se inclinava para você num convite sorridente: "Isto aqui é belo, mas o Céu, onde reino com meu Filho, é mais belo ainda, vem, não demores! A terra não é para os puros e sinceros como tu."
Notre Dame du Port foi a última que admirou.
Amava o Brasil e a França, sempre dizia: "Depois do Brasil, nenhuma pátria é mais bela que a França!"

O MAS SAINT LOUIS

Como ele amava o Mas Saint Louis. Chamava-o Paraíso de Mandelieu!
A moradia não era vasta, mas aconchegante e suficiente para a família. Parva sed apta, construída em estilo provençal.
Ao pé do Esterel, entre pinheiros e ciprestes, construído de modo que se podia ver das janelas os jardins e a baía, escondendo-se somente a enseada de Théole pelo Monte Saint Pierre.
A leste, os Alpes, cujas neves até abril se confundem com as nuvens.
Dom Luís gostava de admirar os barcos que visitavam a baía desde sua janela do quarto do Mas Saint Louis. Quando não, e isto mais que admirar, dar uma volta no Crévard, Vvltando com o barco carregado de linguados, pescadas, ou rodovalhos. E se este virava, nadava de dar inveja aos habitantes do mar. Às vezes reservava as lanchas de Luis Fanciuli, e quando não ia com a família para as sombras dos pinheiros comer bouillabaisse(sopa de frutos do mar).
Do quarto do ângulo esquerdo do primeiro andar, se podia ver sua silhueta acolhedora sorrindo para este amigo, quando o visitava no Mas.
Porém, à memória do visitante veio uma queixa do rapaz a sua mãe quando o médico lhe aconselhou a ir para as montanhas respirar ar fresco: Mamãe, fiquemos em Mandelieu! Se você me levar, não o verei mais." Ele não gostava de dramatizar nada, e disse isso com extrema sinceridade.
Fisicamente, era bem saudável, seu aperto de mão esmagava as falanges de quem o cumprimentava, os joelhos dominava a montaria, e os tornozelos se moviam para um potente chute de futebol (afinal, era príncipe do Brasil ou não?). Mas o que dizer de reações violentas, bater de portas ferir a cabeça contra a parede do quarto? Era o primeiro tempo ao qual sucedia, imediatamente um segundo, o do controle vitorioso, sorridente e conciliador. A tempestade seguida de bonança.
Desapegado de todas coisas que comumente agradam à juventude. Guardava em seu bolso, a esmola do capelão, e uma cama de vento lhe bastava se pendesse desde a cabeceira um crucifixo. Quiseram dar a seu quarto uma melhor decoração: "Assim como está basta!" - Lhes respondeu. Sua mãe quis trocar seu pequeno Peugeot 201 por um veículo mais possante: "O meu está bom!"
Com os parentes, deferência afetuosa, disposição espontânea, e sincera em prestar serviços e ceder o melhor lugar.
Não podemos deixar de citar um episódio tal qual contaram a Monsenhor René Delair.
Quando ainda menino, viajava com a família de trem e uma senhora proferiu um elogio: "Que menino bonito!"
Ele socou o nariz com a testa crispada de raiva e repetia: "É chato ser bonito, isso faz você me olhar."

BEM NA MODA

Desde o levantar-se, quando beijava seu crucifixo de madeira. (Confesso que passei a fazer isso quando li o livro), Até se deitar, quando repetia o gesto, piedoso, D. Luís Gastão mostrava-se um perfeito filho do dever.
Que adolescente austero! - dirão. Sim, era a disciplina de vida que demonstrava profundas convicções cristãs. Mas, D. Luís Gastão nunca foi um santo triste e introvertido (Dizíamos no seminário de La Reja, que um santo triste é um triste santo). Encontrava o objetivo principal de seu músculos na atividade física. Cavaleiro consumado, seu porte sobre o animal era de correção acadêmica. "Eis o duque de Aumale." - exclamava o professor que conhecera seu tio-bisavô.
A refeição em família ainda não tinha acabado e ele já vivia com o irmão, a partida de futebol planejada.
Estava perfeitamente a par dos acontecimentos esportivos, dos quais nenhuma minúcia escapava. Fazia cronogramas com letra serrada e regular, dum campeonato esportivo, bem na moda. Era um ansioso torcedor da equipe francesa. (Nota de rodapé: eram raras as equipes brasileiras na época).
Adversário temível, mas cortês, ele logo se colocou no primeiro plano nos campeonatos de Cannes. Até hoje os amadores lembram-se dele (...) nos campos de tênis de Beau Site e de Hespérides. Auto, moto, regatas. (...) Empreendia audácias nas águas caprichosas do lago de Lucerna na Suíça, com seus primos arquiduques da Áustria. chegou a completar em quatro horas, a distância de Lucerna a Fuellen (36 KM), a remo com seus primos supracitados. E como ele estava orgulhoso disso.
Como todos os enérgicos ele não amava a vida por ela em si, mas por seu emprego interessante e generoso.Sua timidez natural, dava lugar, dia a dia, e cada vez mais, àquela alegria que se inspirava em todas as circunstâncias.
  

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