terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dom João VI





As responsabilidades podem pegar o homem de surpresa. Por vezes podem até sobrepôr-se à vontade própria.


De fato, quando reinava Dona Maria I, a Piedosa, a mãe que lhe educara nos bons princípios da fé e da moral católica, Dom João não tinha sobre si muitas reponsabilidades, mas tendo se adoentado o irmão, logo teve que casar-se com Dona Carlota Joaquina, isto em 1785, para assegurar a perpetuidade da dinastia. Sacrificou uma possível vocação religiosa pela qual abdicaria do trono, mas as precauções dos pais estavam certas, já que em 1788, seu irmão mais velho, dom José, falece de varíola. Não menos de 11 anos depois, Dona Maria, quiçás debilitada pelo medo de uma revolução em Portugal, tal qual a da França, que lhe ceifou a amiga Maria Antonieta, foi declarada incapaz de governar. Viu-se assim Dom João, com um verdadeiro império sob sua responsabilidade.


Desde que consolidara uma prole numerosa que garantiria o futuro do trono, Dom João, Regente de Portugal, fez do palácio de Queluz a moradia de sua esposa, Dona Carlota, e das crianças que não convinha separar da mãe. Para si, o Palácio de Mafra era residência perfeita. Construído com a madeira do Brasil, encrustado com jóias e pedras preciosas especificamente vindas de Minas Gerais, este palácio à 30 quilômetros de Lisboa, servia de sede do governo, convento e igreja.

Sim. Por necessidade ele se casara para dar à pátria um herdeiro. Tendo morido seu primogénito om menos de um ano, uma prole de cinco rebentos vivos, frutos de 9 gestações, já era suficiente para doravante ele não ter mais com que se preocupar, a não ser educá-los. Podia então dedicar-se à religião, assitir três missas por dia, como seu costume, cantar todas as horas litúrgicas com os monges do palácio de Mafra, e, como regente, resolver os assuntos do Estado, sempre bem estudados e aprofundados diante do Santíssimo, de cuja presença o regente não se esquivara para cumprir as obrigações políticas.


Dentre as preocupações políticas, havia uma que não deve ter deixado de passar pela cabeça do rei: aliar-se a Napoleão, e ver Portugal invadida pelos ingleses, ou lutar junto dos ingleses e ver Portugal invadida pela França? Em ambos os casos perderia o trono. Haveria uma opção? Tomemos as palavras do historiador pernambucano Manoel Oliveira Lima, e vejamos o que se passava na Europa em 1807: "O rei da Espanha mendigando em solo francês a proteção de Napoleão; o rei da Prússia foragido de sua capital ocupada pelos soldados franceses; o (...) quase rei da Holande refugiado em Londres; o Rei das Duas Sicílias exilado de sua lina Nápoles; as dinastias da Toscana e Parma, errantes; (...) o czar em Petersburgo; a Escandinávia prestes a implorar um herdeiro dentre os marechais de Bonaparte; o imperador do Sacro Império e o próprio Pontífice Romano obrigados de quando em vez a deixar seus tronos (...) eternos e intangíveis." Não era preciso muita inteligência para saber, que resistir a Napoleão, era uma pretensão insana, que ameaçava a continuação do trono dos Bragança. Por outro lado, ele poderia aliar-se, já que não podia resistir-lhe.

Mas, que representava aliar-se a Napoleão, o usurpador do trono francês, que arrancara a coroa das mãos do papa, e usado pelos maçons exportava a revolução e o liberalismo para toda Europa? Sim! Dom João VI, era anti-maçonaria. Pra se ter uma idéia, no seu governo, o Chefe de Polícia, Diogo Inácio da Pina Manique, continuou a política de sua mãe, Maria I, mandando prender maçons, fechar as lojas das sociedades secretas e proibindo a entrada de livros liberais. Manique foi investido por Dom Joçao com poderes de intendente-geral, desembargador, e adminsitrador da alfandega de Lisboa. E sob auspício de Dom João, dava á polícia as seguintes instruções: Aquele que você vir de sapatinho bicudo e muito brilhante, colarinho até meia orelha, cabelo rente na nuca e avolumado até a moleira, com suiças até os cantos da boca, garre-o logo, tranque-o na cadeia carregado de ferros, até que haja navio para o Limoeiroé iluminado ou pedreiro-livre." Limoeiro éra o nome da prisão em Lisboa, destianda exclusivamente a maçons e iluministas. Qualquer simpatizante das idéias francesas era alvo da perseguição implacável de Manique sob ordem dos Bragança (Dona Maria I, e Dom João).


Mas, aliar-se à Inglaterra? Um país cismático, protestante; não é isso errado tanto quanto seria aliar-se à Napoleão? Bom... dois pontos: Terá sido errado que Inocêncio XI, beatificado por Pio XII, tenha preferido ajudar financeiramente a Guilherme de Orange e Maria II, a derrubar Jaime II, que era católico? Tavez porque o papa preferisse uma Rainha que manteria a Inglaterra como um país monárquico, do que um rei que sendo católico, levaria o país à ruína e à uma possível república. Diante de tais possibilidades, era melhor um monarca protestante do que uma república. Segundo: Pio VII havia se pronunciado sobre o bloqueio continental à Inglaterra, e foi desfavorável à essa medida de Napoleão.



Diante do ultimato de "ou aderir o bloqueio ou os Bragança jamais reinarão novamente na Europa dentro de dois meses", sabendo que não era pecado fazer aliança puramente polítca com uma nação cismática, além do que, a aliança com Inglaterra existia desde que D. Afonso Henriques de Borgonha, pai do primeiro Rei de Portugal, recebeu ajuda de Ricardo Coração de Leão contra os mouros, consolidando-se com o casamento de Felipa de Lancaster com D. joão I, Mestre de Avis, e diante das ameaças de Napoleão, contra o qual era inútil lutar, o melhor era usar da terceira opção que ele secretamente tinha.



Há mais de 200 anos era plano estudado pelas cortes uma eventual fuga da família Real ao Brasil, donde poderia governar com pleno poder. Não foi uma to de covardia, e sim um plano cuidadosamente planejado. Dom João não era covarde, apenas sabia que "ninguém está obrigado ao heroísmo pra se salvar", como diz Santo Tomás.



Ele não tinha medo de manter as políticas do Chefe de Polícia, mas para não estragar seus palnos de enganar Napoleão, despediu Manique, isso foi em 1807, às vésperas de tomar a decisão final. Despedindo Manique, Napoleão pensaria que logo Portugal seria aliado da França. Foi uma rdil que não implica em mudança de idéias. Foi em 30 de novembro que Dom João mudou-se com toda a família Real para o Brasil, chegando aqui em janeiro de 1808, Napoleão se lembraria dele nas memórias escritas no exílio da Ilha de Santa Helena, dizendo: "Foi o único que me enganou."



As políticas anti-maçõnicas, anti-revolucionárias e anti-liberais de Dom João continuariam aqui no Brasil. Já deixara um governador inglês para amnter Portugal livre de Napoleão, e em um reprochhe audaz, deu ao Príncipe do Brasil, um brasão de armas com escudo inglês e, louros, tal qual os da Vendeia. Sim. Dom João conhecia a Vendeia, como toda a Europa conheceu desde que Athanase de la Charrette passou a se correponder com Luiz XVIII. Não é de admirar que quando trouxe a missão artística, tenha pedido a Debret um brasão semelhante ao usado pela "Armée Royale et Catholique". Mas, não é o brasão apenas que nos faz pensar que ele repreendia Napoleão... Dom João aborrecia o liberalismo e a revolução. Quando sua mãe morreu, tendo sido corado Rei do Brasil, Portugal e Algarves com o nome de Dom João VI, tão logo pôs a cora na cabeça teve que reprimir os maçons de Pernambuco que queriam proclamar uma república e a independência, isso lá em 1816.



Ele era sagaz, e sabia que a independência, a emancipação, era um processo natural até. Foi assim que a Europa foi se formando, com a independência de Portugal, da França, de Nápoles como braços vassalos e por fim autónomos do Império Romano Germânico. Percebendo no entanto que a maçonaria e os liberais iriam proclamar republiquetas e ameaçariam a soberania e a unidade da colónia, ele preferiu programar a independência, e deixou instruções claras a seu filho quando partiu para Portugal em 1821: "Meu filho toma a coroa, antes que a tomem de ti estes aventureiros."



Não foi de todo errado, aliás, não foi nenhum pouco errado, quando Dom Pedro I, cumpriu as ordens do pai e proclamou a independência em idos de Setembro de 1822.



Não temos que nos corar de uma independência tão bem planejada e dada por um monarca católico, perseguidor da maçonaria e zombador de Napoleão. Independência que sua mulher invejou e até tentou dar à Argentina (parece-nos que chegou a trocar correspondência com San Martín, para fazer-se rainha da Argentina. Na qualidade de irmã de Fernando VII, seria até mais natural se assim a Argentina conseguisse sua emancipação); independência que Dom Pedro I tentou contribuir que se desse ao México, quando entregou sua filha como consorte a Maximiliano I; independência que até Garcia Moreno queria imitar, sim Garcia Moreno, era monarquista, e queria um herdeiro de Carlos IV para o reino do Equador.



Se foi à Portugal jurar á Constituição, tampouco pecou... Luiz XVI também jurara uma Constituição... pouco antes da Revolução proclamar a República. quiçás ele pensasse que ia ao matadouro, tal qual o mesmo Luiz XVI quando voltara de Versailles para Paris. Assim Dom João VI ia como ovelha ao sacríficio pensando que ia encontrar o mesmo destino. Mas sobre constituição e constitucionalismo, e o que se passou lá em Portugal com a volta do Brasil, falaremos quando discorrermos sobre Dom Pedro I.


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"1808", Laurentino Gomes, Editora Planeta, 2009, 3º edição.


O autor, que não é historiador, apenas reforça os preconceitos históricos gerados pela maçonaria, tachando o rei de obscurantista, medroso, glutão, indeciso, carola e demais lugares comuns em voga. Contudo, resgatou citações preciosas apra este artigo, aqui colocadas entre parêntesis. Foram tiradas das páginas 62, 80 e 282.

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