SUA
INFÂNCIA – PRIMEIROS ESTUDOS
(1.821
- 1.845)
Nasceu Gabriel Garcia Moreno em 24 de dezembro de 1.821, em Guayaquil,
principal porto da República do Equador. Deu-lhe a providência pais
católicos fervorosos, que o souberam educar nas grandes verdades do
Cristianismo.
“Coisa estranha,” como
observou o Pe. Deschand, “aquele que havia de espantar o mundo por sua audácia,
estava, na infância, muito longe do homem intrépido e incansável que seria mais
tarde! Pelo contrário, era de compleição mui delicada e caráter em extremo
pusilânime. Foi necessária uma implacável obstinação por parte do pai, para que
o Gabrielzinho chegasse a não temer o mais leve rumor insólito dos formidáveis
trovões da cordilheira dos Andes.”
Muitas vezes, Dom Gabriel García Gomes, seu pai, trancava-o na varanda até que
se acalmasse e vencesse o seu medo nervoso dos trovões. Outra vez, o fez ir
sozinho acender uma vela junto a um defunto, antes de entrar no recinto fúnebre
com o filho. A esta educação enérgica de caráter, García Moreno iria não só
agradecer, como somar às regras dos retiros inacianos, para ele mesmo “AGERE
CONTRA”, agir contra os seus maiores defeitos.
Ainda menino, o acaso lhe tolheu o pai e a sua mãe, Dona Mercedes Moreno,
ciente das necessidades espirituais do filho, entregou-o à Frei José
Bittencourt, para que este o preparasse em seus estudos.
Dez meses com o frade foram suficientes para fazê-lo entender bem o Latim e
Frei Bittencourt logo encontrou meios de encaminhar o prodigioso aluno para
ingressar na Universidade de Quito, e ali foi o jovem Gabriel reafirmar a sua
Fé extraordinária de católico, e sua grande inteligência de estudante. Chegava
todas as semanas à Comunhão, não temendo irritar as impiedade e indiferença
reinantes no meio universitário.
Resolveu por esta época ingressar no
seminário, chegando a receber as Ordens Menores; mas a Providência destinava-o
para “bispo do mundo exterior” e assim García Moreno deixou o seminário,
ingressando na Advocacia.
Estudava pelas noites adentro até ser abatido pela fadiga, quando, então, se
deitava sobre tábuas nuas para que o sono não se prolongasse muito e não lhe
tomasse o precioso tempo. Aos vinte anos de idade, já era célebre em Quito e
tinha fama de sábio, a quem acorriam, e providenciavam-lhe a presença em todas
as reuniões mundanas da capital.
Percebendo que a vida era curta demais para se perder tempo em diversões
inúteis, tomando exemplo da educação dada por seu pai, encerrou-se no seu
quarto, sem hesitar raspou-se a cabeça e, vendo-se assim privado de sair à rua,
disse aos seus livros: “Eis-me obrigado a vos ser fiel para mais de seis
semanas.” Dedicou-se também a aprender a manejar armas de fogo e espada, e
a ser perfeito cavaleiro, pois sabia que teria necessidade destas ciências.
Certa vez, quando lia um livro de estudos, se abrigou do sol debaixo de uma
rocha, sem perceber o quanto ela parecia se desprender do rochedo, quase que
prestes a esmagar quem estivesse por debaixo. Isso notando, deu um salto para
longe dela, mas notando que era só aparência, envergonhado pela reação
instintiva, voltou para debaixo do rochedo ameaçador por, pelo menos, alguns
dias, passando horas a ler debaixo do terrível penedo, até que passasse o susto
e fosse vencido qualquer temor infantil. Aplicou não só a lembrança das lições
de ferro de seu pai, como a regra de ouro de Santo Inácio: "AGERE
CONTRA", conforme explicado.
Essa vitória sobre o medo, fez dele um destemido explorador dos vulcões e
cavernas vulcânicas do Equador, tornando-se excelente, e destemido observador.
Tanto que as suas anotações de expedições vulcânicas eram recomendadas e
traduzidas para diversas línguas por eminentes geólogos da época, como
Alexandre Humboldt. Certa vez, quase perdeu a vida no Shangai, mais
ativo vulcão do Equador, não fosse a insistência do índio que tinha por guia,
que o convenceu a deixar a aventura bem a tempo de salvar-se de uma explosão de
rochas derretidas que logo se deu.
SEU
CASAMENTO – O PATRIOTA – VIAGEM À EUROPA
(1.845
– 1.851)
Apenas saído da Universidade de Quito, iniciou a sua vida prática, com o firme
propósito de nunca defender uma causa injusta. Casou-se em 1.845 com Dona Rosa
Ascasubi. Sua têmpera de estadista e patriota não lhe permitiria o sossego e a
comodidade do lar. O Equador se debatia sob o governo do General Flores e o
povo equatoriano, levantando-se em peso, derrubou o ditador. Em seu lugar, no
entanto, subiu uma convenção que não conseguiu achar um chefe digno do governo.
Gabriel fundou, então, um jornal: “O Chicote” e com ele fustigou os caricatos
dirigentes de sua terra. O governo e os funcionários, assim tratados por García
Moreno, protestaram veementemente, acusando o seu pasquim com todas as sortes
de títulos desonrosos. A resposta de Gabriel García Moreno veio terrível e
dela, para não delongarmos, só extraímos a ironia final: “Deveis agradecer-nos
por termos publicado a vossa história sem ter exigido salário.”
Por questões econômicas, suspendeu as suas atividades jornalísticas, mas, assim
que tomou conhecimento do retorno do General Flores ao governo, fundou outro
jornal: “O Vingador” e nas suas colunas denunciou os propósitos do antigo
ditador. No entanto, os membros do partido de Flores iniciaram uma desordem tão
grande em Guayaquil, que a Convenção se viu obrigada a pedir auxílio ao seu
crítico, o qual, acatando o pedido como ordem, pacificou Guayaquil.
Voltou Gabriel à Quito e continuou a denunciar os desmandos, e imoralidades da
camarilha que governava a sua terra, mas, desanimado pela indiferença dos
equatorianos, resolveu-se retirar para a Europa. No Velho Mundo, ele passou
todo o tempo em estudos sérios e de lá regressou com maior dose de
conhecimento, e cada vez mais inabalável em suas convicções católicas.
A
QUESTÃO DOS JESUÍTAS – REVOLUÇÃO URBINA
(1.851
– 1.853)
O Congresso Equatoriano foi interpelado pelos liberais, mas, depois de grandes
discussões, venceu a ala católica e os jesuítas receberam uma antiga igreja, e
um hotel em Quito, onde puderam fundar um colégio. Essa vitória de Gabriel
García Moreno, exasperou os liberais. O embaixador colombiano exigiu, em nome
de seu país, que o Equador também expulsasse os jesuítas. No entanto, o Equador
mandou tropas à fronteira, fazendo o embaixador colombiano se retirar de Quito.
Gabriel García Moreno publicou, então, “A defesa dos Jesuítas”, que teve
bastante repercussão.
Urbina, radical liberal e ambicioso, organizou um atentado, e, depondo o
presidente, arvorou-se como ditador do Equador. O regime novo era tão
vergonhoso que a pena de García Moreno traçou a célebre “Ode à Fábio”, rito de
revolta contra os atentados de Urbina.
GARCÍA
MORENO NO EXÍLIO – VIAGEM A PARIS
(1.853
– 1.856)
Urbina, temendo a popularidade de García, viu-se obrigado a esperar ocasião de
vingança. Quando García Moreno fundou um novo jornal de oposição, “A Nação”,
mandou-o prender. Gabriel García Moreno esperou, então, os oficiais que o
prenderiam em praça pública e, preso diante do povo que já o admirava, foi
exilado para a Colômbia.
Fugindo da prisão colombiana, conseguiu voltar à Quito, mas, por ver-se
impossibilitado de organizar um levante armado contra Urbina, recolheu-se no
Peru. Pretendia voltar, quando recebeu a notícia de que o povo o elegera
senador e, então, voltou à Quito para assumir o mandato. O ditador não lhe
permitiu se assentar no Congresso e o mandou de volta, exilado, ao Peru. Dali,
Gabriel escreveu o folheto “A Verdade Aos Meus Acusadores”, no qual fustigou e
denunciou os desmandos de Urbina. Como se via impossibilitado de voltar à sua
pátria, viajou novamente à Europa.
Em Paris, houve um curioso caso: defendendo a Religião Verdadeira numa
argumentação firme e concisa, um dos seus amigos interpelou: “Fala muito bem,
meu caro amigo, mas parece-me que essa religião tão bela Vossa Senhoria
descuida-se de praticar. Quanto tempo faz que não se confessa?” Gabriel,
humildemente respondeu: “Respondeu-me com um argumento pessoal que pode valer
hoje, mas que não valerá amanhã, eu lho prometo.” No outro dia, Gabriel García
Moreno se confessou... e isto o fez voltar à vida piedosa de antigamente.
VOLTA AO EQUADOR – SENADOR
Gabriel voltou da Europa, sendo cumulado de honrarias. Foi nomeado prefeito de
Quito e reitor da universidade desta, exercendo sabiamente este duplo encargo.
A presidência nessa época era ocupada por Robles, uma marionete do partido de
Urbina e Gabriel García Moreno, lançou-se novamente ao jornalismo com “A União
Nacional”, criticando a tirania maçônica do governo. Seus esforços na imprensa
valeram a maioria eleitoral da oposição. García Moreno, agora como senador,
conseguiu a promulgação de uma lei, dissolvendo as lojas maçônicas e outras
sociedades secretas inimigas da Igreja. Entretanto, os seus sucessos
parlamentares foram interrompidos por causa da guerra com o
Peru.
Continua...
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